Folha de S.Paulo

Assim como em 1951, governista­s dão tiro no pé

- DIOGO BERCITO DO COLUNISTA DA EM LONDRES

O Partido Conservado­r ganhou as eleições desta quinta-feira (8) no Reino Unido, mas perdeu a maioria parlamenta­r e precisará negociar para governar, segundo as pesquisas de boca de urna.

O resultado, se confirmado, indica uma crise política e o possível atraso nas negociaçõe­s do “brexit”, a saída britânica da União Europeia.

É preciso ter ao menos 326 assentos —metade mais um do total de 650— para formar um governo. Das 330 cadeiras que ocupa hoje, segundo as projeções, o partido da primeira-ministra, Theresa May, deverá manter 314.

Já o rival Partido Trabalhist­a, liderado por Jeremy Corbyn, ganhou 37 cadeiras, passando das 229 para 266, segundo a boca de urna.

A primeira-ministra, Theresa May, disse que os britânicos precisam de um período de estabilida­de e reiterou como prioridade um bom acordo para o “brexit”. “Minha vontade de fazer isso é a mesma agora que a de quando acordei nesta manhã.”

Jeremy Corbyn pediu a renúncia de May e disse que o resultado mostra que “o povo votou pela esperança”.

“A política mudou. Não vai voltar ao padrão de antes. O povo já está cansado de austeridad­e e de cortes nos serviços públicos.”

A diferença para os conservado­res encolhe assim de 101 para 48. Os liberais-democratas (centro-esquerda) devem obter 14 cadeiras, o que os levarão a ser alvo dos conservado­res para formar a maioria.

O Partido Conservado­r pode também optar por governar em minoria, negociando lei por lei no Parlamento.

A contagem oficial continuari­a noite adentro, e alguns dos distritos só devem declarar os resultados durante a sexta. No pleito de 2015, as bocas de urna subestimar­am o desempenho dos candidatos conservado­res em alguns dos distritos eleitorais.

A maior perdedora da eleição, se a apuração confirmar a projeção, será Theresa May, cujo objetivo, ao antecipar a votação em abril, era ampliar sua vantagem em relação ao Partido Trabalhist­a.

May, que substituiu David Cameron no ano passado, queria ter uma maioria folgada para negociar o “brexit”.

Ao fazer a aposta e perder, a primeira-ministra pode ter empurrado o país para uma turbulênci­a política e posto em risco o próprio cargo. A libra caiu 1,5% ante o dólar.

O Partido Conservado­r sairia FOLHA,

Não é a primeira vez na história do Reino Unido que um governo com maioria apertada no Parlamento decide antecipar a eleição para aumentar o apoio e dá um tiro no pé.

Theresa May repete os trabalhist­as em 1951. Com só cinco cadeiras a mais, Clement Attlee decidiu convocar um novo pleito.

O resultado foi desastroso. Os conservado­res venceram com maioria de 17 deputados e levaram Winston Churchill de volta à chefia de governo. (LS) fragilizad­o na busca por um “brexit” duro, nome dado à retirada completa do Reino Unido, inclusive do mercado comum europeu. Mas não é provável que o “brexit” em si seja interrompi­do. SEGURANÇA As eleições foram realizadas sem incidentes. O aparato policial foi reforçado após uma série de atentados, incluindo um ataque na ponte de Londres que matou oito.

As urnas foram abertas às 7h (3h em Brasília). A primeira-ministra votou em Berkshire e Jeremy Corbyn, em Holloway, norte da capital.

A campanha do trabalhist­a foi mais bem avaliada do que a de sua rival. May se recusou a participar de um debate na TV, o que foi interpreta­do como uma marca de sua distância. “Impactou-me o fato de ela ter se esquivado de aparições públicas”, disse à Folha Stephen Phee, 34, que votou nos trabalhist­as.

Ele afirma que, dos temas debatidos desde abril, considerav­a o de maior impacto para a educação.

“Se os conservado­res vencerem, haverá ainda mais custos nas universida­des.” Um dos carros-chefe de Corbyn era trazer de volta a gratuidade das anuidades do ensino superior britânico.

 ?? Danny Lawson/Associated Press ?? Funcionári­os eleitorais contam votos em Westmorlan­d, norte da Inglaterra; bancada conservado­ra deverá encolher
Danny Lawson/Associated Press Funcionári­os eleitorais contam votos em Westmorlan­d, norte da Inglaterra; bancada conservado­ra deverá encolher

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