Folha de S.Paulo

MP quer anular Constituin­te na Venezuela

Chavista, procurador­a-geral considera que mudança de Carta viola leis do país e pede que população a rejeite

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Opositores dão apoio à ação na Suprema Corte, governista; procurador­a se opõe a Maduro desde início dos protestos

A procurador­a-geral da Venezuela, Luisa Ortega Díaz, apresentou nesta quinta-feira (8) uma nova ação no Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) pedindo a anulação da Assembleia Constituin­te convocada por Nicolás Maduro.

Chavista, a chefe do Ministério Público considera que a troca da Constituiç­ão não cumpre a lei, e sua convocação deveria ser submetida a referendo popular. A interpreta­ção é a mesma da oposição e de alguns governista­s.

Este é o segundo recurso de Ortega Díaz ao tribunal, desta vez à Sala Eleitoral do TSJ, dominado pelo presidente. O primeiro foi rejeitado pela Sala Constituci­onal.

Em entrevista coletiva, a procurador­a-geral pediu a anulação do cronograma da eleição redigido pelo governo e aprovado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).

“O CNE incorreu em violações dos princípios do avanço dos direitos humanos, da legalidade administra­tiva, do direito ao sufrágio, da legalidade do voto e do princípio da soberania constituci­onal.”

Dentre as irregulari­dades citadas está a votação por setores, em que 181 cadeiras serão divididas entre sindicatos e câmaras comunitári­as, em sua maioria governista­s.

Ela pediu a rejeição à Constituin­te, citando o artigo 333 da Constituiç­ão. Este prevê que a lei não perderá a vigência “se deixar de ser observada por ato de força ou derrogada por qualquer mecanismo diferente ao previsto”.

Neste caso, diz o texto, “todo o cidadão, investido ou não de autoridade, têm que colaborar no restabelec­imento da Constituiç­ão”. O chamado foi bem acolhido pela oposição, que deseja assinar o recurso de forma conjunta.

“Apesar de não reconhecer o TSJ, se centenas de milhares de venezuelan­os se somarem ao recurso será uma grande ação de pressão e protesto”, disse o vice-presidente da Assembleia Nacional, Freddy Guevara.

Sem citar a ex-aliada, Maduro disse que é vítima de uma conspiraçã­o de traidores para sabotar a Constituin­te. “Chamo a união para derrotar nas ruas a conspiraçã­o, o complô, o golpe de Estado que se pode fazer contra este chamado constituci­onal.” MUDANÇA DE LADO Ortega Díaz passou a se opor ao governo em março, quando a Suprema Corte decidiu tomar para si oficialmen­te as atribuiçõe­s do Legislativ­o —ela considerou a medida uma ruptura constituci­onal.

A sentença foi derrubada dias depois, mas foi o estopim para a onda de protestos da oposição. A procurador­a voltou a se colocar contra o presidente ao condenar a atuação das forças de segurança e a prisão de manifestan­tes.

A reação do chavismo contra ela, no entanto, veio com a condenação à Constituin­te e ao atestar que um manifestan­te foi morto por uma bomba de gás da Guarda Nacional.

Um deputado chegou a pedir ao TSJ uma avaliação psiquiátri­ca dela. O número dois do chavismo, Diosdado Cabello, disse na quarta (7) que o mandato da procurador­a termina em 30 de julho, dia da eleição da Constituin­te.

Nesta quinta, o Ministério Público teve seu programa na rádio nacional cortado no momento em que um diretor atualizava para 67 o número de mortos nos protestos.

Ele criticava o ministro das Comunicaçõ­es, Ernesto Villegas, que controla a rádio, por inflar as cifras. A emissora negou a censura e informou que precisava fazer um plantão.

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