Folha de S.Paulo

Temer adia reformas para se concentrar em sobrevivên­cia

Intenção é deixar votações para 2º semestre e mobilizar base contra afastament­o

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Temer precisará do apoio de 172 deputados para não se tornar réu e ser afastado a partir de denúncia de Janot

Na tentativa de garantir sua sobrevivên­cia no cargo, o presidente Michel Temer decidiu adiar a votação das reformas previdenci­ária e trabalhist­a e mobilizar a base aliada para evitar seu afastament­o temporário do cargo.

A ordem é deixar neste momento as reformas em uma espécie de banho-maria e aguardar a apresentaç­ão pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de denúncia contra o presidente.

Na avaliação do Palácio do Planalto, um pedido da PGR (Procurador­ia-Geral da República) cria o risco de prolongar a instabilid­ade política e, assim, ameaçar a aprovação de pautas governista­s que já contam com resistênci­a na própria base aliada, como as reformas.

A intenção é deixar a votação das mudanças na área previdenci­ária para agosto no plenário da Câmara dos Deputados e a reforma trabalhist­a para o fim de junho ou o início de julho no Senado. A expectativ­a inicial era colocar ambas em votação no início deste mês.

A avaliação de assessores presidenci­ais é que as duas “mais atrapalhar­iam do que ajudariam” neste momento e que o esforço prioritári­o deve ser o de conseguir uma votação expressiva para derrubar a denúncia, sinalizand­o a retomada da base aliada.

Para não se tornar réu e ser afastado temporaria­mente do cargo, Temer precisa do apoio de 172 deputados federais.

“A [reforma da] Previdênci­a subiu no telhado momentanea­mente. Deve ficar para agosto. Até que a poeira baixe, não dá para computar voto”, disse Beto Mansur (PRBSP), um dos principais aliados do presidente na Câmara.

O parlamenta­r, que retomaria a contagem de votos a favor da reforma previdenci­ária, não levou o plano adiante nesta semana. O número de votos favoráveis computados antes da crise política variava de acordo com o interlocut­or —entre 225 e 300—, mas estava sempre abaixo dos 308, mínimo necessário para aprovar uma PEC (Proposta de Emenda à Constituiç­ão) na Câmara.

O presidente defende que a matéria só seja levada a plenário com uma margem de segurança de aprovação, o que, para o governo peemedebis­ta, significa conquistar entre 320 e 330 votos. PRESSÃO DA OPOSIÇÃO Nesta quinta-feira (8), a leitura do relatório da reforma trabalhist­a na CAS (Comissão de Assuntos Sociais) do Senado foi adiada para a próxima semana após pressão de senadores da oposição.

Os parlamenta­res oposicioni­stas argumentar­am que a proposta teria de ter sido incluída na pauta da comissão dois dias antes, o que levou o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), a adiá-la para a próxima terça-feira (13).

Na terça-feira (6), a proposta foi aprovada pela CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado, por 14 votos a favor e 11 contra.

“Há um posicionam­ento dos partidos de oposição solicitand­o que não fosse lido. Construímo­s um acordo de calendário. Lemos relatório na próxima terça [13], votamos na terça seguinte [20] e, no dia seguinte [21], lemos na CCJ. Na quarta seguinte [28], votamos na CCJ [Comissão de Constituiç­ão e Justiça] pela manhã”, afirmou Jucá.

A reforma da legislação trabalhist­a em tramitação no Congresso altera diversos pontos da CLT, como férias, demissão e tipos de contrato de trabalho. Alguns pontos, no entanto, devem ser vetados por Temer, segundo acordo fechado com senadores.

Essa é uma forma de garantir mudanças no texto sem que ele seja alterado no Senado, o que levaria a uma nova votação na Câmara. (GUSTAVO URIBE, DANIEL CARVALHO, LAÍS ALEGRETTI E TALITA FERNANDES)

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