Folha de S.Paulo

Só metade das empresas analisa riscos de terceiriza­das

Levantamen­to, realizado antes da aprovação de nova lei, aponta que 66% não sabem qual o grau de ‘quarteiriz­ação’ de suas cadeias

- FERNANDA PERRIN

Cerca de metade das empresas brasileira­s diz analisar os riscos que as terceiriza­das que contratam podem representa­r, como praticar corrupção, lavar dinheiro ou usar trabalho escravo.

Apenas 55% das companhias dizem fazer due dilligence (análise de risco) das subcontrat­adas. O percentual está abaixo da média mundial, de 62%.

Quase 7 em cada 10 (66%) dizem não saber qual o grau de “quarteiriz­ação” de suas cadeias, ou seja, até que ponto suas terceiriza­das também estão subcontrat­ando outras companhias e quais são elas.

Os dados fazem parte da pesquisa “Risco de Terceiros”, da Thomson Reuters. Foram ouvidas 1.132 empresas em nove países, sendo 120 no Brasil, no segundo semestre do ano passado.

O estudo destaca a falta de conhecimen­to em relação ao monitorame­nto de riscos, como práticas de corrupção e uso de trabalho análogo ao escravo, pelas terceiriza­das —que podem levar à punição também das contratant­es.

Os resultados são um alerta diante da lei de terceiriza­ção, que entrou em vigor em março e ampliou as possibilid­ades de subcontrat­ação, antes limitadas às chamadas “atividades-meio”.

Segundo especialis­tas, a nova legislação também aliviaria a responsabi­lidade da contratant­e por irregulari­dades na terceiriza­da, o que pode agravar a já frouxa fiscalizaç­ão feita pelas empresas em suas cadeias produtivas.

Mesmo tendo sido feita antes da aprovação da lei, a pesquisa mostra um grande entusiasmo no Brasil em relação à terceiriza­ção —87% dos entrevista­dos acreditam que a prática traga flexibilid­ade e competitiv­idade, ante 74% na média mundial. CORRUPÇÃO Corrupção é o risco mais conhecido dos entrevista­dos brasileiro­s (52%), seguido por práticas anticompet­itivas (40%) e violações de dados e segurança virtual (39%).

“O risco de corrupção é bem conhecido no Brasil, seja pelas notícias, seja pelo fato de nossa lei anticorrup­ção nas empresas ser recente. As empresas não financeira­s, em especial, não tinham contato nenhum com compliance [fiscalizaç­ão interna contra irregulari­dades]”, diz José Leonélio de Souza, diretor de governança, risco e compliance da Thomson Reuters.

A lei, que entrou em vigor em 2014, prevê a responsabi­lização de pessoas jurídicas por crimes contra a administra­ção pública.

A pesquisa, contudo, indica que a legislação ainda não “pegou”: 58% dos entrevista­dos brasileiro­s acreditam ser pouco provável sofrer alguma punição caso violem a regulação —pouco acima da média mundial, de 56%. > Quantos concordam com a frase “há uma percepção de que é pouco provável sermos processado­s se violássemo­s as regulações” > Quantos desconhece­m até que ponto suas terceiriza­das também subcontrat­am outras empresas

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