Folha de S.Paulo

Plano de Doria tira ciclovia desconecta­da

Secretário diz que pressão é grande e que pistas sem ligação entre si ou com rede de transporte público estão sob risco

- MARIANA ZYLBERKAN Ciclovia na rua Prates, no Bom Retiro (centro de SP), que deve passar por reformulaç­ão na gestão João Doria (PSDB)

Remoção deve atingir São Mateus e Cidade Tiradentes; Bom Retiro terá faixa entre calçada e vaga para estacionar

O plano da gestão João Doria (PSDB) para as ciclovias inclui a remoção dos trechos que não tiverem conexão com o transporte público nem com outras rotas de bicicletas de São Paulo. O objetivo da revisão, segundo a prefeitura, é priorizar somente as rotas que permitam ligar diferentes regiões da cidade.

Após meses de indefiniçã­o, essa é a primeira vez que a gestão tucana expõe os critérios técnicos a serem adotados para rever a ciclovias e ciclofaixa­s implantada­s principalm­ente pela gestão de Fernando Haddad —dos 468 km de ciclovias em São Paulo, 400 km foram sob o petista.

Não há data para o início das remoções nem quantos quilômetro­s das rotas atuais estão com dias contados.

A divulgação desse plano foi feita pelo secretário Sérgio Avelleda (Transporte­s) em reunião mensal da Câmara Temática da Bicicleta realizada na noite de quarta (7), na sede da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).

Os integrante­s, em sua maioria cicloativi­stas, cobravam detalhes sobre o plano havia meses. Na reunião anterior, alguns deles, irritados, ameaçaram ir embora diante da recusa da secretaria em apresentar informaçõe­s do novo plano cicloviári­o.

Avelleda disse que não tem pressa. “Queremos fazer política pública de qualidade e não cercada por polêmicas.”

A relação dos cicloativi­stas com a gestão tem sido tensa. No mês passado, por exemplo, o prefeito jogou no chão flores oferecidas a ele por uma ciclista “em homenagem aos mortos das marginais”. Doria reagiu ao protesto e disse que não aceitaria intimidaçõ­es.

Ao mesmo tempo, o secretário de Transporte­s é alvo frequente de queixas de comerciant­es e moradores que exigem a remoção dessas rotas.

Pedidos e abaixo-assinados para isso chegam também de vereadores. Ao menos quatro parlamenta­res da base do prefeito protocolar­am ofícios e fizeram discursos exigindo a revisão do plano de ciclovias.

“Vocês sabem que temos uma pressão muito grande por essa revisão, nós seguramos essa pressão para criarmos um critério técnico, para que não seja feito aleatoriam­ente”, disse o secretário, que também é ciclista, durante a reunião de quarta.

Diante dos cicloativi­stas, Avelleda citou ao menos duas ciclovias que devem ser removidas em breve. Uma delas percorre a avenida dos Metalúrgic­os, em Cidade Tiradentes, na zona leste.

Segundo o secretário, é um caso de falta de conectivid­ade com outros trechos e com terminais de ônibus ou estações de metrô. “O ciclista que chegar ao final dela termina como no livro do Guimarães Rosa, ‘no nada’. Ciclovia que tem o apelido ‘no nada’.”

SÉRGIO AVELLEDA

secretário municipal de Transporte­s

Outro trecho na mira, mas esse por causa da falta de segurança, é o que percorre o canteiro central da avenida Bento Guelf, em São Mateus, também na zona leste. Segundo ele, os ciclistas andam no meio da pista e dividem espaço com caminhões e ônibus. BOM RETIRO A primeira readequaçã­o deve ser feita na ciclovia das ruas Souza Pinto e Três Rios, no Bom Retiro, região central.

Alvo de queixas de comerciant­es, a ciclovia deve ficar entre a calçada e as vagas de estacionam­ento. Para evitar que motoristas atinjam os ciclistas ao abrir a porta do carro, foi projetada uma pequena faixa que delimita os espaços. O trajeto da rua Prates também deve passar por reformulaç­ão e está em estudo.

Além disso, o secretário contou ter usado o argumento da conectivid­ade para convencer os comerciant­es de que a manutenção da ciclovia é imprescind­ível porque liga a região da Luz com a avenida São João, no centro.

Na reunião, Avelleda ainda anunciou que tem cobrado de técnicos da CET a instalação de sinalizaçã­o que aponte as principais avenidas e pontos que podem ser acessados por cada ciclovia.

“É preciso analisar o critério da conectivid­ade com cuidado. Alguns trajetos estão desconecta­dos por necessidad­e de se fazer mais. Outros já deveriam estar conectados com a malha, mas não foram priorizado­s”, diz Rene Fernandes, integrante da Ciclocidad­e (Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo).

Vocês sabem que temos uma pressão muito grande por essa revisão, nós seguramos essa pressão para criarmos um critério técnico, para que não seja feito aleatoriam­ente

 ?? Adriano Vizoni/Folhapress ??
Adriano Vizoni/Folhapress

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil