CBDA escolhe novo presidente sob ameaça de federação internacional
Fina avisa que não reconhecerá votação, e Brasil pode ficar impedido de competir
NATAÇÃO
Diante do cenário mais turbulento de sua história, a CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) realiza nesta sexta-feira (9), às 14h, no Rio, eleição para definir seu presidente até o fim do atual ciclo olímpico.
A votação, porém, não terá legitimidade para a alta instância da modalidade.
Em comunicado enviado nesta quinta-feira (8) à entidade brasileira, a Fina (Federação Internacional de Natação) informou que não reconhece o pleito “uma vez que não é realizada de acordo com a Constituição da CBDA e as regras da Fina”.
A CBDA está sob intervenção judicial desde março, quando a diretoria foi afastada por indícios de improbidade administrativa e fraudes em licitações.
A Fina baseia-se em dois artigos de seu estatuto para contestar as eleições. Ambos exigem que a gestão de suas filiadas seja independente, sem influência de terceiros.
O artigo 14 prevê que a entidade poderá suspender ou expulsar países com autonomia ameaçada ou sob interferência governamental.
Resumindo a parte esportiva do imbróglio: se punido, o Brasil pode ficar impedido de ser representado por seus atletas internacionalmente.
O advogado Gustavo Licks, designado pela Justiça como interventor da CBDA, foi notificado da decisão da Fina.
Mesmo assim, as eleições foram confirmadas para ocorrer nesta sexta-feira.
As três chapas concorrentes são encabeçadas por Miguel Cagnoni, que comandou a Federação Aquática Paulista por 23 anos; Cyro Delgado, medalhista no 4 x 200 m livre nos Jogos de Moscou, em 1980; e Jeferson Borges.
O pleito deve ser polarizado entre Cagnoni, que lançou há quase três anos uma frente de oposição, e Delgado.
Ao todo, 97 eleitores terão direito a voto –69 clubes, 27 federações e o representante da comissão de atletas.
Além da ameaça de embargo por parte da Fina, o eleito encontrará uma organização em estado crítico. Após os Jogos Olímpicos do Rio, perdeu o patrocínio do Bradesco e viu o apoio dos Correios, que lhe repassa verbas desde 1991, retroceder cerca de 70% em relação ao contrato anterior.
A estatal chegou a dizer que rescindiria o vínculo em razão da situação da confederação, mas ainda não anunciou qual será sua decisão.
Atualmente, a CBDA tem pouco mais de 50 funcionários. Muitos têm lidado com atrasos de salários.
No campo esportivo, os efeitos também são sentidos: o polo aquático não deve enviar delegação para o Mundial de Budapeste, em julho, e a natação terá uma equipe enxuta, com 16 membros.
Para a realização, em maio, do Troféu Maria Lenk, principal competição da natação nacional, o Comitê Olímpico do Brasil precisou bancar quase um terço do custo.
“Se eleito, a primeira coisa a fazer é contratar auditoria e tomar pé do estado financeiro da CBDA”, afirmou Cagnoni, em entrevista à Folha.
“É a única maneira de retomar a credibilidade. O foco também será as categorias de base e a interação com federações estaduais e regionais”, complementou.
Delgado também bateu na tecla da transparência.
“Quero escutar atletas, técnicos e ter um conselho mais robusto. Fazer gestão corporativa e investir em marketing moderno na marca CBDA, para recuperar a credibilidade que ela perdeu”, comentou.
Membro da comissão nacional de atletas do governo federal, ele disse que tem “muita experiência” em cargos públicos e isso é uma vantagem.
Havia um candidato da situação, Sérgio Silva, que dirigia a federação baiana. No entanto, ele desistiu de sua candidatura ao cargo.