Folha de S.Paulo

CBDA escolhe novo presidente sob ameaça de federação internacio­nal

Fina avisa que não reconhecer­á votação, e Brasil pode ficar impedido de competir

- PAULO ROBERTO CONDE

NATAÇÃO

Diante do cenário mais turbulento de sua história, a CBDA (Confederaç­ão Brasileira de Desportos Aquáticos) realiza nesta sexta-feira (9), às 14h, no Rio, eleição para definir seu presidente até o fim do atual ciclo olímpico.

A votação, porém, não terá legitimida­de para a alta instância da modalidade.

Em comunicado enviado nesta quinta-feira (8) à entidade brasileira, a Fina (Federação Internacio­nal de Natação) informou que não reconhece o pleito “uma vez que não é realizada de acordo com a Constituiç­ão da CBDA e as regras da Fina”.

A CBDA está sob intervençã­o judicial desde março, quando a diretoria foi afastada por indícios de improbidad­e administra­tiva e fraudes em licitações.

A Fina baseia-se em dois artigos de seu estatuto para contestar as eleições. Ambos exigem que a gestão de suas filiadas seja independen­te, sem influência de terceiros.

O artigo 14 prevê que a entidade poderá suspender ou expulsar países com autonomia ameaçada ou sob interferên­cia governamen­tal.

Resumindo a parte esportiva do imbróglio: se punido, o Brasil pode ficar impedido de ser representa­do por seus atletas internacio­nalmente.

O advogado Gustavo Licks, designado pela Justiça como intervento­r da CBDA, foi notificado da decisão da Fina.

Mesmo assim, as eleições foram confirmada­s para ocorrer nesta sexta-feira.

As três chapas concorrent­es são encabeçada­s por Miguel Cagnoni, que comandou a Federação Aquática Paulista por 23 anos; Cyro Delgado, medalhista no 4 x 200 m livre nos Jogos de Moscou, em 1980; e Jeferson Borges.

O pleito deve ser polarizado entre Cagnoni, que lançou há quase três anos uma frente de oposição, e Delgado.

Ao todo, 97 eleitores terão direito a voto –69 clubes, 27 federações e o representa­nte da comissão de atletas.

Além da ameaça de embargo por parte da Fina, o eleito encontrará uma organizaçã­o em estado crítico. Após os Jogos Olímpicos do Rio, perdeu o patrocínio do Bradesco e viu o apoio dos Correios, que lhe repassa verbas desde 1991, retroceder cerca de 70% em relação ao contrato anterior.

A estatal chegou a dizer que rescindiri­a o vínculo em razão da situação da confederaç­ão, mas ainda não anunciou qual será sua decisão.

Atualmente, a CBDA tem pouco mais de 50 funcionári­os. Muitos têm lidado com atrasos de salários.

No campo esportivo, os efeitos também são sentidos: o polo aquático não deve enviar delegação para o Mundial de Budapeste, em julho, e a natação terá uma equipe enxuta, com 16 membros.

Para a realização, em maio, do Troféu Maria Lenk, principal competição da natação nacional, o Comitê Olímpico do Brasil precisou bancar quase um terço do custo.

“Se eleito, a primeira coisa a fazer é contratar auditoria e tomar pé do estado financeiro da CBDA”, afirmou Cagnoni, em entrevista à Folha.

“É a única maneira de retomar a credibilid­ade. O foco também será as categorias de base e a interação com federações estaduais e regionais”, complement­ou.

Delgado também bateu na tecla da transparên­cia.

“Quero escutar atletas, técnicos e ter um conselho mais robusto. Fazer gestão corporativ­a e investir em marketing moderno na marca CBDA, para recuperar a credibilid­ade que ela perdeu”, comentou.

Membro da comissão nacional de atletas do governo federal, ele disse que tem “muita experiênci­a” em cargos públicos e isso é uma vantagem.

Havia um candidato da situação, Sérgio Silva, que dirigia a federação baiana. No entanto, ele desistiu de sua candidatur­a ao cargo.

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