Folha de S.Paulo

GOVERNO ENCURRALAD­O Palácio do Planalto prevê manutenção da instabilid­ade

Para tentar recuperar respaldo político, Temer quer que ministros acelerem medidas de estímulo ao emprego

- BRUNO BOGHOSSIAN

Prevendo a manutenção do ambiente de instabilid­ade, apesar da vitória no Tribunal Superior Eleitoral, o presidente Michel Temer determinou a seus ministros que acelerem a implementa­ção de medidas de estímulo ao emprego para tentar recuperar popularida­de e respaldo político para superar a crise aberta pela delação da JBS.

Para o Planalto, a sucessão de acusações feitas contra o presidente por delatores deve estender por meses o ambiente de inseguranç­a em que mergulhou o governo.

Por isso, a cúpula do governo deu uma orientação expressa ao BNDES para a adoção de políticas de crédito para alavancar pequenas e médias empresas. Encomendou também ao Planejamen­to medidas de estímulo aos setores de habitação e serviços, potenciais geradores de emprego.

O governo acredita que a recuperaçã­o dos índices de emprego e do ambiente econômico de maneira geral seriam a principal saída para a crise política no médio prazo, uma vez que reduziriam a insatisfaç­ão popular e a indisposiç­ão de partidos aliados em relação à gestão.

O resultado do TSE é considerad­o o primeiro de três passos da tentativa de restabelec­er a força de Temer, segundo seus auxiliares. Eles ainda consideram imprescind­ível derrubar no plenário da Câmara, com um placar robusto, a provável denúncia que a Procurador­ia-Geral da República deve apresentar contra Temer e aprovar —ao menos em primeiro turno— a reforma da Previdênci­a.

Ainda cética com os desdobrame­ntos da crise, a equipe de Temer reconhece que a vitória no TSE não dará força imediata ao governo, mas acredita que ajuda a superar uma espécie de fator de desconfian­ça que afastava o mercado e agentes políticos, em especial o PSDB.

Os articulado­res do Planalto vão explorar esse resultado para tentar reaglutina­r a coalizão, com o argumento de que o TSE decidiu manter Temer no poder e que não há alternativ­a óbvia ao presidente, uma vez que não há nome de consenso para substituí-lo.

Parte dos auxiliares do presidente não acredita sequer em uma recuperaçã­o permanente da estabilida­de do governo Temer, apesar de crer que ele tem força para concluir seu mandato.

Não há dúvidas no Planalto de que surgirão novos fatos que impliquem Temer em suspeitas de corrupção apontadas por Joesley Batista, da JBS, e que a instabilid­ade do país será permanente, sendo superada “só em 2019”, segundo um líder aliado.

Os articulado­res políticos do primeiro escalão dão conta de que Temer deverá “administra­r” ou “tocar a vida” a cada dia, a depender dos desdobrame­ntos da crise.

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