ANÁLISE Ao salvar o presidente Michel Temer, TSE serviu pizza requentada ao país
O julgamento da chapa Dilma-Temer foi previsível até no placar. Com semanas de antecedência, o governo já projetava a vitória por 4 votos a 3. Ao confirmar o resultado, a corte assinou um recibo de submissão ao Planalto e serviu uma pizza requentada ao país.
O governo não teve dificuldade para tratorar o relatório de Herman Benjamin. Na reta final do processo, Michel Temernomeoudoisdossete ministros que decidiriam seu futuro. Napoleão Maia era visto como o terceiro voto garantido pela absolvição.
Faltava apenas um ministro para liquidar a fatura. Para isso, Temer contava com o amigo Gilmar Mendes na cadeira de presidente do TSE.
Não houve suspense algum quando Rosa Weber votou a favor da cassação e deixou a tarefa do desempate para Gilmar.
Ele agiu como se esperava. Criticou o Ministério Público, repetiu que o TSE não poderia gerar “instabilidade política” e assegurou a permanência de Temer no poder.
A surpresa ficou restrita ao repertório do ministro. Acostumado a citar juristas em alemão, ele recorreu a Américo Pisca-Pisca, o personagem de Monteiro Lobato, para justificar o voto a favor do governo. “Se eu fosse reformar a natureza, colocaria as abóboras nas jabuticabeiras”, recitou.
Gilmar também encontrou tempo para rebater as críticas pela proximidade com o presidente. “Essa lógica de amigo e inimigo outros praticam, não eu”, informou.
Apesar da derrota, Herman deixou o plenário com a imagem de “campeão moral”. Num voto extenso, ele detalhou o uso de propina e caixa dois da campanha de 2014 e constrangeu os colegas que decidiram ignorar as provas da Lava Jato.
“Como juiz, recuso o papel de coveiro de prova viva. Posso até participar do velório, mas não vou carregar o caixão”, avisou. Nem precisava. Já havia quatro ministros dispostos a segurar as alças do esquife. Como recuperar a confiança?
Estamos na dependência de surgirem novas lideranças que restaurem princípios democráticos. Não apenas as pessoas não pedem desculpas, como não dão indicação de que vão mudar o comportamento e não sugerem novos nomes. Em alguma medida, isso é um indicador de que os partidos não são capazes de projetar novas gerações de líderes, preparar, qualificar… As portas estão fechadas. Nesse cenário, a opinião pública acaba criando heróis, como o juiz Sergio Moro?
Tem uma certa tradição no Brasil de personalizar figuras do mundo político. Na ausência de partidos capazes de interpretar a crítica e dar uma resposta, está havendo uma tendência de refocar em pessoas que poderiam representar uma política alternativa. [O ex-ministro do STF] Joa- Como o senhor vê a possibilidade de eleições diretas?
Acho que não temos chance. Primeiro porque a Constituição não prevê e é importante cumpri-la. Nem a esquerda acredita que isso é possível, está defendendo mais para ter um elemento de mobilização, o que acho ruim. Se tem uma bandeira que sabe que não dá para fazer, é uma fraude.
“
Estamos na dependência de surgirem novas lideranças que restaurem princípios democráticos. Não apenas as pessoas não pedem desculpas, como não dão indicação de que vão mudar o comportamento e não sugerem novosnomes. Isso é um indicador de que os partidos não são capazes de projetar novas gerações de líderes