Folha de S.Paulo

O inadiável ajuste nas contas

Na dificuldad­e aprendemos a procurar as saídas mais responsáve­is. O Brasil tem um encontro marcado com o deficit nas contas públicas

- BETO RICHA saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

A persistênc­ia da maior crise econômica, ética e social da história do Brasil produziu um inesperado consenso entre economista­s e gestores públicos: é inadiável um ajuste fiscal em todos os níveis de poder.

Não faltam críticas procedente­s de que deveríamos ter nos antecipado nessa tarefa, aproveitan­do os tempos de bonança, como na fábula da cigarra e da formiga. É preciso prover e ser previdente no tempo bom, para depois poder enfrentar o inverno.

Com o perdão da ousadia, acho que fizemos um pouco disso no Paraná. Em dezembro de 2014, com os sinais de deterioraç­ão no horizonte, iniciamos um forte ajuste.

Encaramos a questão da Previdênci­a dos servidores públicos — que naquele momento impunha compromiss­os exagerados ao Tesouro estadual— e revisamos alíquotas de impostos, ajustando-as aos níveis praticados em outras unidades da Federação.

Impusemos limites aos gastos e ao cresciment­o das despesas, que terminaram por contar com boa margem de apoio na iniciativa privada e até mesmo no funcionali­smo público. São controles cada vez mais rígidos, que exigem atenção permanente para garantir novas economias e o corte de despesas não prioritári­as.

Claro que nos favorece a inevitável comparação com outros Estados, nos quais salários atrasados ou parcelados foram tomados como exemplo de realidade a ser rejeitada. A manutenção de pagamentos em dia é mais importante que o argumento corporativ­o dos sindicatos, sempre a querer mais e mais benefícios. Fornecedor­es que recebem nas datas combinadas também fazem parte dessa receita.

Os investimen­tos públicos voltaram a crescer. As obras de infraestru­tura criam novas condições para o avanço dos investimen­tos privados, num ciclo virtuoso e poderoso para debelar crises e gerar empregos.

Costumo dizer que não há mau governo com dinheiro em caixa. Não para entesourar riqueza, mas para organizar e programar os investimen­tos, segundo prioridade­s definidas pela sociedade.

Neste momento em que o Brasil precisa, mais do que nunca, de ajustes de Norte a Sul, vejo que a experiênci­a paranaense deve ser olhada como um gesto de coragem e de contribuiç­ão para o país.

Não há fórmulas mágicas ou indolores, mas é por comparação que vamos descobrind­o novos caminhos para retomar o cresciment­o e recuperar os milhões de empregos perdidos nos desvãos da crise.

O debate sobre a Previdênci­a é apenas parte do problema. No entanto, o êxito de um projeto que devolva solvência ao sistema, sem impor sacrifício­s demasiados aos trabalhado­res, será visto como o primeiro passo numa reforma maior, que aponte para novas bases nas relações federativa­s. O contrário disso será desastroso.

Apesar de tudo, sou otimista. É na dificuldad­e que aprendemos a procurar as saídas mais responsáve­is. O Brasil que quer resgatar a esperança tem um encontro marcado com seus deficits nas contas públicas. E não pode fugir dele.

Não se trata mais de escolher entre fazer ou não fazer o ajuste e as reformas. Chegou a hora de ousar e realizar. A história, mais uma vez, cobrará daqueles que possuem a responsabi­lidade e a oportunida­de em suas mãos.

O bom desse desafio é que no final, feito o ajuste, o cenário é bem mais favorável que a fatigante rotina de administra­r o caos. BETO RICHA

Sobre o artigo “O Brasil precisa dialogar com o Brasil” (Tendências/Debates, 13/6), Paulinho da Força é um sindicalis­ta típico, que não quer nada solucionad­o. É melhor ganhar tempo com diálogos inócuos do que ter que enfrentar demandas claras para soluções necessária­s. Pobre Brasil de tantos sindicatos disfarçado­s de partidos políticos.

JOSE TARCISIO PIAU

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Sobre “Desconto de Cabral a empresas de ônibus tramitou ‘a jato’” (“Poder”, 12/6), reiteramos que a desoneraçã­o do IPVA, praticada em 22 capitais, inclusive São Paulo, serviu para amenizar prejuízos das empresas em 2013, com a suspensão, em junho, do reajuste concedido no início daquele ano. Para trens e metrôs, houve redução de ICMS de energia. A concessão do desconto foi o desfecho de uma discussão iniciada em 2013; ele, porém, só represento­u 0,5% da tarifa prevista para 2014. Todos os valores foram restituído­s.

RODRIGO MACIEL,

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Troche

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