Folha de S.Paulo

Ex-ministro Reale Júnior deixa o PSDB

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DE SÃO PAULO

O jurista Miguel Reale Jr., ex-ministro da Justiça no governo FHC, pediu desfiliaçã­o do PSDB após a decisão da sigla nesta segunda (12) de permanecer no governo Temer, mesmo diante da crise com a delação da JBS.

Miguel Reale foi um dos autores do pedido de impeachmen­t da ex-presidente Dilma Rousseff. Estava filiado ao partido desde 1990.

“Eles [lideranças do PSDB] não avaliaram que simpatizan­tes e filiados do partido se opõem a essa decisão [de ficar no governo]. O PSDB não atendeu as suas bases. O eleitorado do PSDB tem a ética e a luta contra a corrupção como focos”, disse.

Segundo ele, o partido agora ignora os fatos graves revelados pela delação dos empresário­s Wesley e Joesley Batista, donos do frigorífic­o JBS.

“Com essa medida, o PSDB perde consistênc­ia, ética e eleitorado. Perde o discurso”, afirmou o jurista. “O PSDB é um muro que vai acabar se tornando o seu túmulo”, completou ele.

Segundo o jurista, a permanênci­a do PSDB no governo Temer nada mais é do que um acordo que visa evitar mais desgastes ao senador e presidente afastado do partido Aécio Neves (MG), ameaçado de ser preso e de ter o mandato cassado no Senado.

“Essa história de que ‘está se olhando para o Brasil, para a necessidad­e das reformas, é só uma desculpa. Uma mão lava a outra. O presidente precisa de apoio. Além disso, há interesses de aliança eleitoral”, afirmou.

O agora ex-tucano reagiu às declaraçõe­s de tucanos de que novas denúncias contra Temer virão e que será necessário o partido rever posição.

“É cansativo isso. Estou indignado com esse posicionam­ento do partido pelo qual tanto lutei”, afirmou.

O jurista afirmou que não pretende se filiar a mais nenhum outro partido

“Não tem nenhum outro [partido] que mereça a minha participaç­ão]”, disse. Sobre entrar com um pedido de impeachmen­t contra Temer, ele afirmou que não pretende tomar a medida. “Já fiz o bastante.”

O PSDB nacional informou que ainda não recebeu nenhum pedido de desfiliaçã­o por parte de Miguel Reale Jr. O presidente do diretório municipal do PSDB em São Paulo, Mário Covas Neto, lamentou a decisão, mas afirmou que compreende o que leva o jurista a esse “desgosto”.

(VENCESLAU BORLINA FILHO)

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Regis Filho - 15.dez.2016/Valor O jurista Miguel Reale Jr., ex-ministro da Justiça de FHC

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