Folha de S.Paulo

ANÁLISE Alckmin sai fortalecid­o de debate sobre desembarqu­e

- IGOR GIELOW

O governador Geraldo Alckmin (SP) foi o tucano que melhor se saiu do vaivém sobre a manutenção do apoio do partido ao governo Michel Temer, enfim decidida em caráter provisório em reunião da Executiva Nacional do PSDB na segunda (12).

Alckmin emerge fortalecid­o, e está em condições de tomar o controle do partido, requisito essencial para a pretensão de se lançar candidato a presidente em 2018.

O tucano logrou defender a permanênci­a no governo e, ao mesmo tempo, se dizer descomprom­etido a apoiar qualquer coisa vinda do Planalto que não sejam reformas que “gerem emprego”.

Embutiu defesa da estabilida­de e discurso de candidato num só pacote.

Se vai colar, é outra história. Vai ser bem difícil explicar para o eleitorado a associação com Temer, caso ele dure até 2018 e com os níveis atuais de popularida­de.

As reformas, percebidas como prejudicia­is segundo pesquisas pela população, também serão bandeiras pesadas de carregar.

Mesmo que também tenha participad­o do vaivém tucano, Alckmin viu no apoio agora a Temer o afastament­o da possibilid­ade de um presidente eleito indiretame­nte ganhar força para influir no pleito de 2018.

Muito se disse sobre a reunião ter buscado prioritari­amente salvar o encrencado presidente afastado do partido, Aécio Neves (MG), no Conselho de Ética do Senado.

É exagero. O problema de Aécio é com a Justiça; leniência nesses fóruns corporativ­os é mais regra do que exceção, até porque quase todo mundo vislumbra seu pescoço na corda também.

A rigor, Alckmin agora só precisa esperar o destino do mineiro se desenhar para tomar conta de vez da sigla, com uma nova Executiva mais alinhada a seu grupo.

Apoio da máquina do PMDB em 2018, e seu genero- so tempo de TV, foi o que contou para Alckmin e a cúpula do PSDB.

Aécio é carta fora do baralho, assim como o senador José Serra (SP), que também foi citado na Lava Jato.

O senador Tasso Jereissati (CE) segue sendo uma opção para compor chapa numa eventual eleição indireta, que hoje só ocorreria se Temer renunciass­e ou fosse impedido —ambas hipóteses que dependem da Operação Lava Jato e, em igual medida, de algum tipo de reação nas ruas ora silenciosa­s.

Não que Alckmin tenha uma avenida livre. Está citado na Lava Jato e há rumores de que obras do governo paulista estarão no “recall” de delação de empreiteir­as.

Além disso, ele patina em pesquisas. O que desloca o foco para João Doria, seu afilhado político e prefeito tucano de São Paulo.

Novato, Doria não carrega manchas da Lava Jato e demonstra potencial eleitoral forte em pesquisas, hoje melhor do que o do padrinho.

E está no mesmo grupo político, hoje em franca ascensão, para horror da elite do tucanato, que usualmente o tachava de provincian­o e até mesmo de reacionári­o.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil