Folha de S.Paulo

Criado em 2012, o Ministério Público de Contas é res-

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A Assembleia Legislativ­a de São Paulo (Alesp) tem de se explicar. Um relatório do Ministério Público de Contas de São Paulo, concluído em 27 de maio, identifico­u falhas na prestação de contas do exercício de 2015 do Legislativ­o paulista, então presidido por Fernando Capez (PSDB).

No entendimen­to do órgão, por sua “gravidade”, as falhas apontadas “podem culminar no julgamento de irregulari­dade” das finanças da Casa, a depender do julgamento do Tribunal de Contas do Estado (TCE).

Uma delas é o pagamento da gratificaç­ão especial de desempenho. Trata-se de um bônus a servidores, que chega a R$ 5.200 mensais e não se baseia em nenhuma avaliação objetiva, diz o texto da procurador­a Élida Graziano.

Em 2015, 295 funcionári­os recebiam esse bônus. Há quem tenha ganhado aumento de 100% três vezes em um mesmo ano, segundo a Promotoria. A gratificaç­ão é investigad­a em um inquérito em andamento no Ministério Público paulista desde 2013. ETERNO RETORNO Há também outras falhas já apontadas, agora revisitada­s pelo Ministério Público de Contas. Ao analisar o balanço de 2014, o órgão advertiu que “a inércia dos responsáve­is” poderia “implicar a não aprovação das contas” futuras.

Apontou problemas, como a ausência de um sistema de controle de gastos na Assembleia. Também propôs a diminuição de compras por adiantamen­to (sem licitação). No entanto, no ano seguinte, essas falhas continuara­m.

A Promotoria identifico­u que o sistema de prestação de contas da Alesp pode sofrer alterações mesmo depois do fim do exercício —o que pode abrir a possibilid­ade de inclusão de notas frias.

Exemplo: os gastos com combustíve­is no primeiro trimestre de 2015, quando consultado­s em 16 de abril daquele ano, eram de R$ 296,7 mil. Ao retornar ao dado, meses depois, em 7 de janeiro de 2016, o valor era R$ 411,2 mil.

A procurador­a pede que a Alesp comprove os gastos com abastecime­nto da frota naquele ano: R$ 2,2 milhões, fora o R$ 1,6 milhão que já tinha sido empenhado dos recursos da cota parlamenta­r.

Tambémques­tionacompr­as sem licitação de R$ 102,9 mil em materiais médicos, sendo que outros R$ 100,8 mil tinham sido gastos para o mesmo objetivo —mas com licitação.

Além disso, a procurador­a observa a “severa distorção” do número de servidores comissiona­dos (sem concurso) na Casa. Em 2015, segundo a Promotoria, havia 3.600 funcionári­os comissiona­dos e 1.039 efetivos. Hoje, são 3.022 nomeados e 750 concursado­s.

O tema foi objeto de uma ação do ação do Ministério Público, que considerou inconstitu­cional a livre nomeação de funcionári­os para exercer funções técnicas. Resultado: a Alesp editou lei, sancionada pelo governador Geraldo Alckmin, que mudou a nomenclatu­ra dos cargos e os transformo­u em “especiais”, passíveis de nomeação.

A Assembleia, presidida desde março pelo também tucano Cauê Macris, tem até o início de julho para se manifestar ao Tribunal de Contas —que jamais reprovou as contas do Legislativ­o. DOIS PESOS ponsável por um dos quatro pareceres técnicos que baseiam a decisão do TCE.

As contas de 2015 já foram analisadas, sem ressalvas, pela Assessoria Técnico-Jurídica e pela Procurador­ia da Fazenda do Estado.

Em seu relatório, a procurador­a confronta as irregulari­dades que aponta com decisões do tribunal para possíveis irregulari­dades semelhante­s em prefeitura­s do Estado de São Paulo.

Em 2010, o TCE julgou que eram irregulare­s as concessões de gratificaç­ões a funcionári­os da Prefeitura de Vinhedo. Os conselheir­os tomaram decisão semelhante, ainda naquele mesmo ano, ao dar seu veredito sobre as contas do município de Buri.

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Renato S. Cerqueira - 15.mar.2017/Futura Press/Folhapress Deputados em sessão na Assembleia Legislativ­a de São Paulo, que é alvo de um relatório do Ministério Público de Contas

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