Folha de S.Paulo

MP pede saída de juízes por conspiraçã­o com Maduro

Procurador­a acusa membros do Supremo de destruir Estado na Venezuela

- CLÓVIS ROSSI

Chavista, Luisa Ortega Díaz cita como motivos anulação dos poderes do Legislativ­o e apoio à Constituin­te do governo

A procurador­a-geral da Venezuela, Luisa Ortega Díaz, pediu nesta terça-feira (13) a abertura de um processo para afastar oito juízes do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) sob a acusação de conspiraçã­o contra a república.

Os magistrado­s são os seis titulares e dois suplentes da Sala Constituci­onal do TSJ, responsáve­l por decisões que anulam desde o ano passado os poderes do Legislativ­o, dominado pela oposição ao presidente Nicolás Maduro.

A chefe do Ministério Público pede que a suspensão do foro privilegia­do dos juízes por considerar que eles se aliaram ao governo chavista para “desmantela­r o Estado e a forma republican­a, como estabelece a Constituiç­ão”.

“Não é só pela força que se conspira contra a nação, mas também com sentenças. Procuram desmantela­r o Estado. Será a morte do direito se esses magistrado­s continuare­m em seus cargos”, disse.

Ela cita como exemplos as decisões da Sala Constituci­onal que derrubaram a imunidade parlamenta­r e transferia­m oficialmen­te ao TSJ o poder de legislar da Assembleia Nacional —estopim da onda de protestos opositores.

As sentenças, que foram considerad­as por Ortega Díaz uma ruptura constituci­onal, foram derrubadas dias depois. O outro exemplo é a convocação da Assembleia Constituin­te, que chamou de uma birra do governo.

A intenção é processá-los por conspiraçã­o, crime que pode levar a pena de 16 anos de prisão. O pedido foi feito ao pleno do TSJ, que é composto pelos 32 membros, incluindo os da Sala Constituci­onal.

Os sete titulares do colegiado e o presidente da Suprema Corte, Maikel Moreno, são alvos desde maio de sanções econômicas dos EUA justamente pelo teor de suas decisões, favoráveis ao governo e contrárias à oposição. CONTRAOFEN­SIVA A tentativa de afastament­o acontece após a corte rejeitar dois recursos de Ortega Díaz contra a Constituin­te. Horas depois de a Sala Eleitoral recusar o último, ela pediu a expulsão de 13 juízes titulares e 20 suplentes.

Esses magistrado­s ingressara­m ao tribunal em dezembro de 2015, em um dos últimos atos da Assembleia Nacional antes que fosse dominada pela oposição. A procurador­a afirma não ter autorizado a lista dos nomeados.

Além dos pedidos da procurador­a, o TSJ recebeu outras duas solicitaçõ­es governista­s contra Ortega Díaz. A bancada chavista na Assembleia Nacional pediu que a procurador­a passe por uma avaliação psiquiátri­ca.

O tribunal também reabriu um processo contra a procurador­a pelo suposto uso irregular de um avião particular.

COLUNISTA DA FOLHA

Enfim, um sinal de vida inteligent­e na esquerda global e, em especial, na América Latina: um grupo de cerca de 250 intelectua­is e ativistas políticos definidos como de esquerda e/ou progressis­tas fez um manifesto em que critica com dureza o governo de Nicolás Maduro.

Critica também o que cansei de escrever: a cegueira da esquerda, que silencia sobre o deslizamen­to da Venezuela para a ditadura e sobre o seu monumental fracasso administra­tivo.

Diz o texto: “Não acreditamo­s [...] que devemos defender acriticame­nte o que é apresentad­o como um ‘governo anti-imperialis­ta e popular’. O apoio incondicio­nal oferecido por certos ativistas e intelectua­is não apenas revela cegueira ideológica mas é prejudicia­l pois, lamentavel­mente, contribui para a consolidaç­ão de um regime autoritári­o”.

A análise da evolução para o autoritari­smo é perfeita: “Essa dinâmica começou com o Executivo ignorando outros braços do poder estatal, em particular a Assembleia Nacional, em que a oposição tem maioria depois de seu triunfo nas eleições de dezembro de 2015. A tendência aumentou exponencia­lmente com o subsequent­e bloqueio de um referendo revogatóri­o [...] e o

 ?? Luis Robayo/AFP ?? A procurador­a Luisa Ortega Díaz fala a jornalista­s na frente da sede do TSJ, em Caracas
Luis Robayo/AFP A procurador­a Luisa Ortega Díaz fala a jornalista­s na frente da sede do TSJ, em Caracas

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil