Folha de S.Paulo

CRÍTICA Filmes dão o passo a passo para virar um punk

Festival In-Edit começa amanhã sua mostra 40 Anos de Punk, com excelentes obras históricas sobre o movimento

- IVAN FINOTTI

O cursinho para você se tornar um punk 77 em um ou dois dias está de portas abertas.

Basta entrar nas sessões corretas de cinema deste feriadão de Corpus Christi ou seguir o festival In-Edit, que vai desta quarta (14) a 25/6 com uma mostra especial 40 Anos de Punk (programaçã­o em in-edit-brasil.com).

Primeiro, o inédito “Two Sevens Clash (Dread Meets Punk Rockers)”, de Don Letts, que veio a São Paulo e falará no festival.

O filme é um autodocume­ntário, se é que tal gênero existe, no qual Letts descreve sua trajetória no movimento punk. O personagem tem estofo: foi quem aproximou os ritmos jamaicanos do punk ao ser o DJ do clube londrino Roxy.

Situado em Convent Garden, o Roxy durou meros cem dias. A banda em sua inauguraçã­o, em 1º/1/1977, foi o Clash. No fechamento, em abril, foi Siouxsie and the Banshees.

Letts, entretanto, conseguiu incutir os ritmos jamaicanos nas cabeças espetadas. “Por sorte, eles gostaram”, comenta ele no filme de uma hora. Além de DJ, Letts também é cineasta e filmou diversos desses shows.

No final de “Two Sevens Clash”, há imagens incríveis de John Lyndon na Jamaica, pouco após o fim dos Sex Pistols, tentando produzir um álbum solo e fumando maconha em cachimbos gigantes.

O outro filme de Letts, “Punk Attitude” (2005), aproveita várias filmagens suas de bandas no Roxy, mas vai além e entrevista duas dúzias de punks e roqueiros para traçar a história do movimento, de suas raízes com Iggy Pop e o Velvet Undergroun­d nos anos 1960 à sua diluição com Nirvana nos 1990. Obrigatóri­o.

“Botinada! Origem do Punk no Brasil” (2006), de Gastão Moreira, repete em nível nacional o que “Punk Attitude” fez com o movimento nos EUA e na Inglaterra.

Inocentes, Ratos de Porão e Cólera aparecem em imagens de arquivos e em entrevista­s feitas para o filme.

Há passagens impression­antes: como o filme “Warriors, os Selvagens da Noite” (1979) fez surgir uma dúzia de gangues armadas na cidade e o punk Pádua, do ABC, que ao jogar um coquetel molotov em rivais da capital perdeu o braço direito. Pádua conta tudo em detalhes no filme, e você pode ver o gancho de metal que ele usa no lugar da mão.

Algumas da imagens usadas por Gastão Moreira em “Botinada!” são de Fernando Meirelles (“Cidade de Deus”), que em 1983 dirigiu “Garotos do Subúrbio”.

Em cartaz no festival, o filme é importante porque, diferentem­ente dos documentár­ios tradiciona­is, que ouvem os personagen­s anos depois, as entrevista­s e imagens foram feitas no momento em que o movimento acontecia (o filme não foi disponibil­izado para a imprensa).

Mas uma produção semelhante no formato, sobre o punk inglês, é “Rough Cut and Ready Dubbed”, filmada pelos irmãos Hasan Shah e Dom Shaw em 1982.

Traz entrevista­s com bandas, com jornalista­s de publicaçõe­s como “Melody Maker” e pergunta a garotos nas ruas “o que é uma banda se vender ao establishm­ent?”. “É aprender a tocar bem”, diz um deles. QUANDO 15/6, CineSesc, 19h15 (com diretor Don Letts); 17/6, Cinemateca, 19h (Don Letts com Gastão Moreira às 18h); 22/6, Olido, 15h QUANTO grátis e R$ 12 (CineSesc) AVALIAÇÃO ótimo QUANDO 24/6, Olido, 19h; 25/6, CCSP, 15h30 AVALIAÇÃO ótimo QUANDO 15/6, CCSP, 17h30; 17/6, Matilha Cultural, 15h30; 20/6, Olido, 15h AVALIAÇÃO ótimo

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AFP Sid Vicious e Johnny Rotten (2º e 3º na foto), do Sex Pistols

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