Folha de S.Paulo

Quebrando o tabu

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O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sugeriu a Michel Temer que desista de se agarrar à cadeira e faça um “gesto de grandeza” para abreviar a crise. Como o peemedebis­ta se recusa a renunciar, FHC indicou uma saída honrosa: pedir a realização de novas eleições.

“Ou há um gesto de grandeza por parte de quem legalmente detém o poder, pedindo antecipaçã­o de eleições gerais, ou o poder se erode de tal forma que as ruas pedirão a ruptura da regra vigente exigindo antecipaçã­o do voto”, avisou o tucano.

Num texto contundent­e, FHC disse que falta legitimida­de a Temer e que o país está vivendo uma “quase anomia” (ausência de lei ou anarquia, na definição do “Houaiss”).

“Preferia atravessar a pinguela, mas se ela continuar quebrando, será melhor atravessar o rio a nado e devolver a legitimaçã­o da ordem à soberania popular”, escreveu.

O tucano ainda mandou um recado a seu partido: “Se tudo continuar com a desconstru­ção contínua da autoridade, pior ainda se houver tentativas de embaraçar as investigaç­ões em curso, não vejo mais como o PSDB possa continuar no governo”.

O texto de FHC é importante porque quebra um tabu. Desde o agravament­o da crise, políticos, empresário­s e personalid­ades que apoiaram o impeachmen­t rejeitam a ideia de novas eleições. A justificat­iva mais usada é que isso abriria caminho ao retorno de Lula pelo voto popular.

Para evitar uma volta do PT, seria preferível tapar o nariz e apoiar uma eleição indireta ou a permanênci­a de Temer até 2018. O discurso ignora o alto índice de rejeição ao ex-presidente, mas tem ajudado a bloquear um debate que incomoda o governo.

Nesta quinta, a professora Janaina Paschoal reforçou a pregação contra as diretas. “Viram FHC trabalhand­o por Lula de novo?”, perguntou, no Twitter, após recomendar uma receita de strudel. Parece um bom momento para o eleitor do PSDB refletir: é melhor ouvir o ex-presidente ou repetir as teses da doutora?

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