Folha de S.Paulo

Reforma política elevaria a R$ 3 bi verba de campanha

Com crise, Congresso abandona pontos centrais de mudança eleitoral, como implantaçã­o de voto em lista

- RANIER BRAGON

Com exclusão de texto de modelo mais barato em que eleitor vota no partido, nova versão amplia fundo público

Tratada até há pouco como importante medida de superação de vícios da administra­ção pública brasileira, a reforma política está escanteada no Congresso e pode se resumir, na essência, a um ponto: a criação de um fundo público de campanha de pelo menos R$ 3 bilhões.

A crise que se abateu sobre Michel Temer levou o governo a priorizar a tentativa de manter o presidente no cargo. O teste prático se dará na autorizaçã­o ou não, pelo plenário da Câmara, para que o Judiciário dê sequência à provável denúncia criminal contra o peemedebis­ta.

Em segundo plano estão as reformas da Previdênci­a e trabalhist­a, também afetadas pelos desdobrame­ntos da delação da JBS. Já a reforma política está estacionad­a e vê o seu conteúdo ser desidratad­oacadadia.

A parte principal do relatório do deputado Vicente Cândido (PT-SP) está há mais de dois meses pronta para ser votada, sem sucesso. Há mais de 15 dias a comissão especial que debate o assunto não consegue se reunir.

Por falta da apoio, abandou-se a implantaçã­o da lista fechada, uma das principais propostas da reforma. Nela, o eleitor deixa de escolher candidatos isolados e vota em listas pré-definidas pelos partidos. O principal argumento em defesa do modelo é o de que ele barateia drasticame­nte as campanhas.

Desde 2015 as empresas estão proibidas de doar para candidatos. A eleição de 2014 custou quase R$ 6 bilhões (valores atualizado­s), isso sem considerar os recursos não declarados à Justiça.

Com a lista fechada abandonada, Cândido agora prega só ajustes no atual modelo, como aumento do teto que pessoas físicas podem doar para campanhas (hoje 10% dos rendimento­s no ano anterior), além da restrição ao número de candidatos que os partidos podem lançar.

Um grupo de legendas, lideradas pelo PMDB, quer ainda tentar emplacar o chamado “distritão” —sistema em que são eleitos os mais votados. Hoje as cadeiras na Câmara são distribuíd­as com base no total de votos que os candidatos do partido ou da coligação receberam.

O “distritão”, porém, já foi rejeitado pelo Congresso em 2015 e tem como um de suas consequênc­ias tornar sem efeito cerca de 60% dos votos dados pelos eleitores. Esse percentual reúne votos dados aos candidatos não eleitos mais os direcionad­os em excesso para os mais bem votados. No atual sistema, o percentual de votos “desperdiça­dos” fica em menos de 10%. FUNDO Com o fracasso da lista fechada, mais barata, o relator da reforma política afirmou à Folha que apresentar­á na semana que vem novo texto elevando em quase 50% o valor do novo fundo eleitoral público para financiame­nto das campanhas.

Em sua proposta original, esse fundo teria R$ 2,18 bilhões. Agora, subirá para R$ 3 bilhões. Deputados defendem que o valor chegue aos R$ 6 bilhões, idêntico ao declarado em 2014.

A esse valor se somariam pelo menos R$ 820 milhões do fundo partidário —hoje a principal fonte pública de financiame­nto dos partidos— e a renúncia fiscal para que TVs e rádios transmitam o horário eleitoral (cerca de R$ 600 milhões).

Paralelame­nte aos pontos debatidos na comissão especial, outra comissão da Câmara analisa proposta já aprovada no Senado para tentar reduzir à metade o número dos partidos —hoje são 35. A medida retira dinheiro público e tempo de propaganda na TV das legendas que não obtiverem um mínimo de votos. Há forte resistênci­a das pequenas e médias siglas, porém. Em 2015, o Supremo Tribunal Federal proibiu as empresas de financiar os candidatos Como os deputados, então, planejam bancar a campanha de 2018

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