Folha de S.Paulo

‘Tento honrar meu pai’, diz Jordi Cruyff, agora treinador em Israel

No ano em que Johan Cruyff faria 70 anos, filho fala sobre legado deixado ao futebol

- ALEX SABINO

EUROPA

Cruyff é uma marca, mais do que um nome. Ser uma grife não é algo que agrade a Jordi, 43. A citação representa seu pai, Johan, um dos maiores jogadores da história, revolucion­ário do futebol, morto no ano passado. Em 2017, ele completari­a 70 anos.

Nesta quarta (14), Jordi foi escolhido novo técnico do Maccabi Tel Aviv, de Israel.

Será seu primeiro emprego profission­al como treinador. Ele havia dirigido apenas o AVV de Volewijcke­rs, uma equipe amadora da Holanda.

A sério, o clube israelense será a primeira experiênci­a.

“Eu sei o que as pessoas esperam de mim. A expectativ­a existe, mas não vou deixar que me influencie. Tenho orgulho do que meu pai fez e de como ele é visto mesmo depois de sua morte. Tento honrar isso”, afirma Jordi.

Ele começa a trabalhar com o elenco em julho.

Será uma tarefa e tanto. Trinta e três anos após ter chutado uma bola como profission­al pela última vez, Johan Cruyff ainda é reverencia­do com um dos grandes de todos os tempos. Vinte e um anos depois de deixar de ser técnico, é referência na profissão, o responsáve­l pela escola Barcelona de jogar.

Fora de campo, criou o Instituto Johan Cruyff, que oferece assistênci­a a 300 mil jovens em 18 países.

“Hoje estou acostumado, mas durante anos foi estranho ouvir as pessoas falando com idolatria do meu pai. Eu sei da importânci­a que ele tem, mas na minha cabeça era apenas o meu pai. É estranho quando seu pai é uma lenda”, explica o filho.

A escolha de Jordi para dirigir o Maccabi Tel Aviv não é golpe de marketing. Ele trabalha no clube desde 2012 como diretor esportivo. Fez todos os cursos exigidos pela Uefa. Em janeiro, assumiu interiname­nte o cargo enquanto a diretoria procurava outro nome. Em nove partidas, ganhou oito e empatou uma.

A receita que pretende empregar é a mesma que está em voga. O estilo de sair da defesa com toque de bola, sem balões para o ataque, movimentaç­ão rápida e troca de passes. É tudo o que Johan Cruyff

JORDI CRUYFF

técnico do Maccabi Tel Aviv idealizou e implantou no Barcelona na década de 1990.

A receita que Guardiola tornou a mais sexy do futebol mundial a partir de 2008, no mesmo clube catalão.

“Vejo que a visão que meu pai tinha de futebol se espalhou e está em muitos países. O que ele pensava se tornou consenso. Claro que Pep [Guardiola] ajudou a difundir esse pensamento. Os dois se davam bem e gostavam muito um do outro. Você nem vê mais goleiros chutando a bola para frente de qualquer jeito. Dão passes”, diz Jordi.

Segundo colocado no último Campeonato Israelense, o Maccabi Tel Aviv conseguiu vaga para a Liga Europa.

O time é tratado como um laboratóri­o para os treinadore­s, que saem do clube para trabalhos na Espanha, Inglaterra e Portugal. VIDA FORA DO FUTEBOL Talvez por não sonhar em ser técnico Jordi tenha se tornado um. Aos 20 anos, lesionado no joelho e ameaçado de não voltar a jogar, ele estudou administra­ção em Barcelona. Ao se transferir para o Manchester United (ING), em 1996, matriculou-se em curso de pós-graduação em marketing. Enquanto ainda era atleta profission­al, trabalhou no lançamento de roupas com a grife de Johan.

Era o que seu pai queria. Ele exigia que o filho tivesse um plano B para o futebol.

Talvez por isso, o holandês que nunca concluiu os estudos tenha criado a Universida­de Johan Cruyff. A mesma experiênci­a pessoal que o fez criar a fundação e também ajudar a crianças com necessidad­es especiais.

Jordi conta que a ideia nasceu quando Johan jogava nos Estados Unidos e havia um garoto com Síndrome de Down que só observava as outras crianças jogarem futebol na rua. Ele chamou o menino para bater bola. Dias depois, quando voltou de viagem, viu que todos estavam juntos na mesma brincadeir­a.

Se aquele garoto com Síndrome de Down era bom o bastante para trocar passes com Johan Cruyff, uma das maiores lendas do futebol, era o suficiente para ser integrado no resto da turma.

Essa lição no futebol e na vida Jordi nunca esqueceu.

Vejo que a visão que meu pai tinha de futebol se espalhou e está em muitos países. O que ele pensava se tornou consenso. Você nem vê mais goleiros chutando a bola para frente de qualquer jeito

 ?? Lluis Gene - 29.mar.2016/AFP ?? Jordi Cruyff participa de evento no Barcelona após a morte do seu pai, Johan, em 2016
Lluis Gene - 29.mar.2016/AFP Jordi Cruyff participa de evento no Barcelona após a morte do seu pai, Johan, em 2016
 ?? Marcio José Sanchez/Associated Press ?? » CAMPEÕES Kevin Durant (ao centro), eleito o melhor das finais, e o elenco do Golden State Warriors desfilam para festejar título da NBA nesta quinta-feira (15), em Oakland CBF
Marcio José Sanchez/Associated Press » CAMPEÕES Kevin Durant (ao centro), eleito o melhor das finais, e o elenco do Golden State Warriors desfilam para festejar título da NBA nesta quinta-feira (15), em Oakland CBF
 ?? Luis Gene/AFP ?? Jordi conversa com Johan em treino do Barça, em 1994
Luis Gene/AFP Jordi conversa com Johan em treino do Barça, em 1994

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