Folha de S.Paulo

Exposição analisa a evolução do desenho de aviões no Brasil

Clássicos, como o Demoiselle e o 14 Bis, de Santos Dumont, e os modelos Bandeirant­e e Urupema, da Embraer, estão na mostra

- SILAS MARTÍ

Ideia do Museu da Casa Brasileira, que organiza o evento, é expandir o debate sobre design para além do mobiliário

No ar, aviões não passam de silhuetas mecânicas a cruzar o horizonte a toda velocidade, impossívei­s de analisar com atenção. Mesmo no pátio dos aeroportos, estão fora de alcance, atrás de janelas ou bem longe nas pistas.

Uma mostra agora no Museu da Casa Brasileira, tão acostumado a mostrar mesas e cadeiras, traz para perto uma série de modelos aeronáutic­os, em especial da Embraer, na tentativa de mostrar outro lado do design do país.

Em pleno regime militar, na década de 1960, surgiu essa empresa que tentou ocupar uma brecha no mercado, a de aviões para curtas distâncias.

Ou seja, quando a aviação já estava na era do jato, com máquinas feitas para vencer longas distâncias, o grupo comandado pelo militar Ozires Silva passou a desenvolve­r aeronaves menores para ligar cidades em viagens rápidas.

Modelo emblemátic­o dos primórdios da Embraer, o Bandeirant­e é uma espécie de vedete da exposição.

“Ele nasceu de uma observação de todos os modelos anteriores que não deram certo”, observa o artista Guto Lacaz, responsáve­l pela seleção. “Viram que bimotores, para menos passageiro­s, eram ideais para alguns trechos. Foi um sucesso que deu origem a toda uma série de aeronaves.”

Desenhado a princípio pelo francês Max Holste, que depois abandonou o projeto, o Bandeirant­e, que fez seu primeiro voo em 1968, passou por uma série de ajustes até se tornar um símbolo da Embraer.

Um painel no museu, aliás, contextual­iza esse modelo no meio de uma série de outros, desde o Demoiselle, concebido por Santos Dumont em 1907, e o célebre 14 Bis, de 1909, até aeronaves atuais criadas no Brasil, em grande parte exportadas para a Europa e os Estados Unidos.

Outro modelo que chama a atenção, o Urupema é uma máquina levíssima, de traços delicados, capaz de levar um único passageiro-piloto, que viaja quase deitado. PRIMÓRDIOS Nesse ponto, mesmo quase restrita a modelos de uma única empresa, a mostra revela mais do que a história de uma indústria e dá a entender como o desenho de uma máquina que voa também passa por etapas semelhante­s às da criação de outros objetos.

Imagens de época mostram como desenhos desses aviões eram feitos nos primórdios, com times de engenheiro­s e designers esboçando tudo à mão em mesas de projeto.

Na sala ao lado, um pedaço real da fuselagem de uma aeronave mostra o resultado desse processo, além de um túnel de vento em miniatura, que deixa ver como uma asa ganha sustentaçã­o no ar.

Lá fora, no jardim do museu, está um modelo de séculos antes da aviação industrial —uma réplica em tamanho real de um dos estudos para avião criados por Leonardo Da Vinci. O renascenti­sta pensou numa máquina em que as asas se movimentar­iam como as de um pássaro a partir das pedaladas do piloto.

“É um projeto conceitual, que nunca funcionari­a”, diz Lacaz. “Isso é mais para mostrar que a tentativa de resolver o voo é algo ancestral.” QUANDO de ter. a dom., das 10h às 18h; até 20/8 ONDE Museu da Casa Brasileira, av. Brig. Faria Lima, 2.705, tel. (11) 3032-3727 QUANTO R$8

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Divulgação Aviões no pátio da Embraer

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