CRÍTICA ‘Kiki’ é divertido tratado sobre taras sexuais
Longa espanhol é comédia romântica em que personagens de tramas paralelas fazem bem mais que se abraçar
FOLHA
Tudo o que você não sabia que queria saber sobre sexo e nunca teve coragem de perguntar, porque essas dúvidas nem passavam pela sua cabeça, está em “Kiki - Os Segredos do Desejo”.
O longa espanhol que estreia na quinta (8) é um tratado engraçado sobre taras. Uma espécie de comédia romântica em que os dez protagonistas fazem mais do que ficar só abraçados. Bem mais.
Para falar sobre tesões enrustidos, o diretor Paco León adota o formato meio surrado de meia dúzia de histórias paralelas que formam uma trama quando mais se espera—no fim.
Mas vale começar pelo começo. A sequência inicial, em que imagens de um casal em ação na cama —lambendo os pés, as mãos, as partes— se fundem com pedaços de animais é de uma beleza rara. Esteticamente apetitoso.
A mesma beleza plástica é emprestada a Madri num verão caudaloso, que vira um cenário fértil para os contos. Só dois deles a seguir. Um: cirurgião plástico que só se acende quando a mulher está apagada, dormindo profundamente, e entra em conluio com a empregada filipina, que se dispõe a fazer vista grossa da sedação da patroa com ansiolíticos, mas em troca pede uma cirurgia para botar os maiores peitões que ele tiver no consultório.
Dois: a patricinha que só goza a valer em situações de perigo, como um assalto na loja de conveniência do posto de gasolina, vai se casar com um bom tipo. O moço, um projeto de Luciano Huck, passa a simular um assalto para dar prazer ao seu amor.
Os atores seguram, sem exceção, papéis complicados e constrangedores. O sexo aqui não passa por um processo de assepsia. Os tesões são sujos, são improváveis e são inverossímeis —tão inverossímeis quanto na vida real.
E são tratados de maneira graciosa, sem nunca virar o motivo da piada. O filme ri da nossa fraqueza pelo sexo, da incapacidade de lutar contra o afã pulsante que vem de dentro, não das taras em si.
É tanta nota de rodapé do “Kama Sutra” filmada que coloca o espectador túrgido — pelo menos nos ombros.
Qualquer cena pode desandar para sacanagem. Se surge um cachorro na tela, pinta com ele a dúvida: vai ser o próximo personagem? Não chega a tanto.
“Kiki: Os Segredos do Desejo” é uma surra. É um exercício cerebral e de corpos cavernosos. Um tesão de filme. PRODUÇÃO Espanha, 2016 (16 anos) ESTREIA em cartaz DIREÇÃO Paco León ELENCO Paco León, Ana Katz, Candela Peña, Natalia de Molina, Álex Garcia, Jacobo Sánchez AVALIAÇÃO ótimo