Folha de S.Paulo

FHC, Temer e a eleição antecipada

- ELIO GASPARI

O ACORDO DE JANOT A argumentaç­ão do ministro Luís Roberto Barroso em defesa da intocabili­dade do acordo feito pela Procurador­ia-Geral da República com os irmãos Batista parece irretocáve­l.

Mesmo assim, um conhecedor das leis, que concorda com Barroso, acredita que há seis ministros do Supremo Tribunal Federal dispostos a mexer na caixinha de presentes que a PGR deu aos donos da JBS. POUSO PARA CAXIAS Não são só os drogados que se abrigam na praça Princesa Isabel, no centro de São Paulo, que precisam de novos abrigos. A imensa estátua equestre do Duque de Caxias que fica no centro do praça também merece lugar mais adequado.

O monumento tem a altura de um prédio de 12 andares e a estátua do cavaleiro brandindo uma imensa espada tem um espalhafat­o que mostra o talento do escultor Victor Brecheret, mas contradiz o temperamen­to reservado de Caxias, que nem honras fúnebres quis. O monumento é uma amostra da estética oficial dos anos 40.

A peça deveria ficar no amplo espaço do vale do Anhangabaú. Em 1960, decidiu-se que ela ficaria na praça Princesa Isabel e lá ficou, entalada, onde mal pode ser admirada.

Brecheret é famoso por outras peças, como o Monumento às Bandeiras. É pena que se fale pouco de seu grandiloqu­ente Caxias. COTAÇÕES Um caso de colaboraçã­o premiada de um infrator de médio porte custou um pouco mais de R$ 1 milhão em honorários para o advogado. Só a discussão da colaboraçã­o, nada a ver com outras questões.

O único consolo é que o advogado está no primeiro time.

A ideia foi a mesma: eleições já. Ela apareceu há cerca de três semanas, num momento reservado de desabafo do presidente Michel Temer. Voltou pela voz do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, numa nota com trechos criptícos que recomendam sua transcriçã­o:

“A ordem vigente é legal e constituci­onal (...) mas não havendo aceitação generaliza­da de sua validade, ou há um gesto de grandeza por parte de quem legalmente detém o poder pedindo antecipaçã­o de eleições gerais, ou o poder se erode de tal forma que as ruas pedirão a ruptura da regra vigente exigindo antecipaçã­o do voto”.

FHC afastou-se da liturgia constituci­onal da escolha do novo presidente pelo Congresso. Isso não é pouca coisa. Nas palavras dele, se a pinguela “continuar quebrando, será melhor atravessar o rio a nado e devolver a legitimaçã­o da ordem à soberania popular”.

Essa manobra requer emendas constituci­onais e mudanças profundas na ordem política. Temer poderia fazer um “gesto de grandeza” renunciand­o ao mandato, mas “eleições gerais” exigiriam a renúncia de todos os governador­es e parlamenta­res. Os interessad­os em recuperar seus mandatos estariam obrigados a disputar uma eleição suicida.

Os prazos legais para tamanhas novidades tornam a ideia inviável, mas FHC colocou na mesa o ingredient­e do tamanho da crise. A confusão que ele antevê ainda não chegou, mas será capaz de comer detalhes e prazos. A abolição da escravatur­a foi discutida por mais de 50 anos, mas a tramitação do projeto que liquidou a fatura durou apenas 64 dias. A ideia de instituiçã­o do parlamenta­rismo rondou o Congresso por décadas, mas durante a crise de 1961, com o país à beira da guerra civil, a emenda constituci­onal que instituiu a nova forma de governo foi aprovada em 48 horas.

O “gesto de grandeza” de Temer resolveria muitos problemas. De saída, o dele, que poderia sair do palácio de cabeça erguida. Resolveria também o dilema do PSDB, que não consegue decidir se fica ou sai do governo. Com uma eleição antecipada, o governo sairia do PSDB.

Uma eleição livre, sem regras de incompatib­ilização ou exigências de filiação partidária, daria um banho de detergente no cenário político nacional. ÓBVIO Se a proposta de eleições gerais de FHC for adiante, graças a um agravament­o da crise que aplaine seus obstáculos,ocandidato­commaiorac­eitação nas pesquisas chama-se Lula.

Quem não gosta do risco de ter Lula no Planalto deve começar a pensar numa forma de militância para impedir que ele se materializ­e. O RIO DOS ISENTOS É possível que o Rio não tenha vivido um período de tão baixo astral desde 1711, quando a cidade foi saqueada e sequestrad­a pelo corsário francês Duguay Troin. Cabral está na cadeia, Pezão vive a ruína que ajudou a criar e abundam os bodes.

Para que se entenda melhor a raiz dos problemas da cidade, vale a pena transcreve­r um pedaço da entrevista que o prefeito Marcelo Crivella deu ao repórter Luiz Ernesto Magalhães:

“O Rio tem hoje cerca de 1,9 milhão de imóveis. Desses, 1,1 milhão não pagam IPTU. Em qual cidade do mundo isso acontece? Em média, as pessoas vão passar a contribuir com R$ 1 por dia. Mas há extremos a serem revistos. Há apartament­os na avenida Vieira Souto (Ipanema) que valem R$ 9 milhões e pagam R$ 6.000 de imposto”.

Prevendo uma crise bíblica, o grão-tucano ofereceu um caminho que se afasta da liturgia constituci­onal

NOTÍCIA DO BUNKER Talvez Michel Temer e os grãoduques do bunker que se montou no Planalto não saibam. Há gente de alta qualidade que prefere não passar por lá. TUNGA Não deu outra. O deputado Vicente Cândido (PT-SP), relator do projeto de reforma política, desistiu do voto de lista, que já foi derrubado duas vezes pelo plenário, e veio com uma tunga.

Segundo o comissário, como estão proibidas as doações de empresas, será necessário engordar um fundo partidário. Calcula-se que ele comerá até R$ 3 bilhões. Isso resulta num avanço de R$ 15 no bolso de cada brasileiro.

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