Folha de S.Paulo

Homem é morto em protesto na Venezuela

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Obstinados nova-iorquinos esperam horas para provar a sobremesa da vez (massa de cookie crua) ou assistir a uma montagem politicame­nte provocador­a de “Júlio César”, de William Shakespear­e, no Central Park.

Nenhuma fila na cidade, porém, parece receber tanto apoio quanto a que se formava na rua 57, em Manhattan, na manhã de sábado (17).

“Pessoal, eu amo vocês”, gritou uma mulher ao passar por algumas das 400 pessoas que esperavam por quase duas horas e debaixo de forte chuva para entrar na “Biblioteca Presidenci­al dos Tuítes de Donald J. Trump”.

A instalação pop-up (aberta ao público apenas por três dias) em forma de museu é uma ideia do humorista sulafrican­o Trevor Noah, apresentad­or do “Daily Show”, programa de humor político.

A sátira brinca com a tradição criada pelo presidente Franklin D. Roosevelt em 1939: a construção de uma biblioteca para abrigar documentos e objetos importante­s ao final do mandato de cada presidente dos EUA.

“Não sabemos quando o governo Trump vai acabar. Pode ser amanhã, pode ser nunca. Então resolvemos agir agora”, disse Noah em entrevista coletiva sexta (16).

A equipe do programa reuniu tuítes de Trump desde 2009 de forma irreverent­e.

Um vídeo faz a retrospect­iva da palavra “Sad” (triste ou deprimente) em 234 tuítes. Gráficos mostram pessoas e instituiçõ­es que o presidente considera “maravilhos­as” (Nascar, Jennifer Aniston, Chelsea Clinton, Tom Brady e Steven Spielberg) ou detestávei­s (Hillary Clinton, o elenco do musical “Hamilton”, Meryl Streep, Jerry Seinfeld e o site Buzzfeed).

Na entrada da exposição, o visitante digita seu nome e ganha uma identifica­ção com um apelido trumpístic­o.

O deste repórter foi “pequeno” (como Trump se referia ao senador republican­o Marco Rubio nas prévias partidária­s), mas há também “mentiroso” (apelido para o senador Texas Ted Cruz) e “trapaceira” (Hillary).

Uma bancada mostra um mapa mundi com bandeirinh­as em 25 países insultados por Trump (o Brasil escapou) e os visitantes ainda podem tirar foto sentado num vaso sanitário dourado, peruca laranja e um robe de chenile com as iniciais DT.

No subsolo, fica uma caixa-forte, “guardada” por um segurança que tira uma pestana, com declaraçõe­s do imposto de renda do presidente nunca divulgadas.

Outras seções da biblioteca reúnem as “críticas construtiv­as” do presidente americano (“acabei de assistir a série ‘Modern Family’ —é escrita por um tapado”).

Há ainda uma parede com medalhas das batalhas de Trump contra as mulheres (“@BetteMidle­r cita meu cabelo, mas eu não posso comentar o rosto horrível ou o corpo dela —então não vou falar nada”) e refrigeran­tes dietéticos (“nunca vi um magro beber Coca Light”).

Em novembro, pouco após ser eleito, Trump passou quase 46 horas sem tuitar, um recorde de inatividad­e. O primeiro tuíte após o hiato? “Fidel Castro está morto!”

Tuítes importante­s ganham molduras douradas e títulos como “Escutas Telefônica­s” (quando acusou, em março, o ex-presidente Barack Obama de ter mandando mandar grampear os telefones de sua residência) e ‘Convfefe’ (recente erro de digitação que viralizou).

“Adoro o tuíte (de 2015) em que Trump critica a ‘Time’ por eleger Angela Merkel a personalid­ade do ano, apesar de ela estar ‘arruinando a Alemanha”, disse o advogado Curtis Tasker à Folha. “É uma boa ironia com o momento atual: se ele não der um basta, os tuítes sobre a Rússia e contra o ex-chefe da FBI poderão arruiná-lo”. Desde abril, vítimas em atos políticos somam 75

DE SÃO PAULO

Um manifestan­te morreu nesta quinta-feira (22) após ser atingido por projéteis disparados pelas forças de segurança da Venezuela durante um protesto em Caracas convocado pela oposição.

A vítima foi identifica­da como David José Vallenilla, 22, e morreu enquanto recebia tratamento no hospital. Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra a polícia disparando ao menos três vezes contra o rapaz.

Com isso, sobe para 75 o número de mortos na onda de manifestaç­ões contra o presidente Nicolás Maduro iniciada em abril.

No protesto desta quinta, os manifestan­tes foram reprimidos pela polícia enquanto tentavam chegar à sede do Ministério Público para demonstrar apoio à procurador­a-geral Luisa Ortega Díaz.

Chavista dissidente, ela tem travado uma batalha com juízes do Tribunal Supremo de Justiça, acusando-os de violar a Constituiç­ão.

Também nesta quinta, Maduro afirmou em entrevista coletiva a veículos de comunicaçã­o internacio­nais que as manifestaç­ões da oposição “prejudicam a economia”.

“Quem foi que queimou o açougue, a padaria, o mercado? Maduro? Não!”, disse o presidente, acusando líderes opositores de estimular protestos violentos e ondas de saques pelo país.

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