Banco Central, um otimista no pântano
A ECONOMIA andava melhor que o previsto até maio, segundo o Banco Central. Tanto que o PIB de 2017 poderia crescer mais que o 0,5% previsto, não fosse a crise política. O BC não revisou a previsão para cima porque não sabe que bicho vai dar após os grampos de Michel Temer.
É o que se lê no Relatório Trimestral de Inflação (RTI) do BC, publicado nesta quinta-feira (22).
Dada a reação imprevisível dos “agentes econômicos” ao novo surto de sordidez, também não se sabe o quanto os juros vão cair. Mas pode ser que o BC desista da freada que anunciou em 31 de maio, lêse também no RTI, pois não há “relação direta e mecânica entre o aumento de incerteza [salseiro político] e a política monetária”.
E daí? Antes de mais nada, um lembrete sobre previsões.
No fim de 2015, ainda sob Dilma Rousseff, os economistas do setor privado ouvidos pelo BC previam crescimento de 1% neste 2017. A estimativa baixou até 0,2% em abril, às vésperas do afastamento de Dilma. Pouco depois do impeachment, em setembro, o relativo otimismo ia ao auge recente: crescimento de 1,4% em 2017. Volátil.
Daí em diante, a alegria minguou. A maioria dos economistas esperava recuperação baseada na melhora dos ânimos de consumidores e empresas, em alta desde o fundo do poço de setembro de 2015. Não rolou. Os juros não caíam, o governo cortava investimento, o desemprego aumentava, o setor externo não dava conta de compensar a descida no pântano doméstico. Desde dezembro de 2016, a estimativa de crescimento para 2017 flutua em torno de 0,5%.
Qual a diferença de 2017, antes do novo tumulto? As taxas de juros reais caíam desde novembro do ano passado, no atacadão do mercado de dinheiro, embora começassem a se mover mesmo apenas em abril, no varejo dos bancos. O investimento do governo ainda cai, mas o total (massa) dos rendimentos do trabalho se estabilizava.
A taxa de juros real (ex-ante) no atacadão de dinheiro deu um saltinho desde maio. A confiança bambeou, mas nada se sabe de seu impacto real nos negócios. No entanto, mais dois meses de juros congelados e, pior, uma possível retranca nos bancos vão desandar a maionese do PIB.
No que é menos imprevisível, o que temos de crise adiante? Uma primeira denúncia da Procuradoria-Geral contra Temer sai na semana que vem. Até que a Câmara decida o destino do presidente, vão umas três semanas, até o recesso do Congresso, que começa em 17 de julho.
A discussão do que sobrar da reforma da Previdência fica, na melhor das hipóteses, para agosto, volta do recesso. Até lá, observamse as chances de sobrevida ativa do governo. Isto é, se aprova a reforma trabalhista e se sofrem mais delações mortíferas. Em suma, são mais dois meses que podem resultar em danos: juros parados na praça, consumidor e empresas na retranca.
Para terminar, convém explicar esse nanocrescimento esperado pelo BC: é reposição de estoques de empresas. Do lado da despesa, o consumo privado não cresceria, por causa de desemprego e crédito travado. Gasto do governo e investimento privado ainda cairiam. Quanto à oferta, produção, o bom resultado da agricultura desaparecerá no restante do ano, a indústria crescerá um tico mínimo e o maior setor, serviços, andará para trás.
Relatório do BC diz que até maio economia ia melhor do que o previsto; retomada ainda não foi para o lixo