Diretoria corintiana usa camarotes para ganhar apoio político
Presidente do clube tem convidado conselheiros para assistir a jogos nos espaços que não foram alugados
ELEIÇÃO
Sem conseguir alugar a maior parte dos camarotes da Arena Corinthians, a diretoria do clube encontrou uma nova finalidade para os assentos privilegiados do estádio: amealhar apoio político.
O presidente do clube, Roberto de Andrade, e seus aliados têm convidado associados e conselheiros —que compõem o colégio eleitoral— a assistir aos jogos da equipe nos camarotes vagos.
Esperam conseguir mais votos para a chapa “Renovação e Transparência”, liderada pelo deputado federal e expresidente do Corinthians Andres Sanchez (PT), da qual Andrade faz parte.
As eleições presidenciais do clube acontecerão em fevereiro do ano que vem.
Os associados e conselheiros convidados pela diretoria podem assistir aos jogos do camarote sem pagar ingres- so, ganham um “certificado de corintiano” e uma carta de agradecimento pela presença, assinada pelo presidente.
Alguns ficam no camarote da presidência, mas outros ocupam os espaços que ainda não foram comercializados pelo clube alvinegro.
“O Sport Club Corinthians Paulista confere ao Ilmo(a). Sr(a) o Certificado de Corinthiano(a) Autêntico(a), representado por seu grande Amor e Dedicação ao maior clube do Brasil”, diz o certificado.
“Caro amigo, agradecemos por sua presença e pelo incentivo durante sua ida à Arena Corinthians (...). O apoio dado à nossa equipe no estádio alvinegro ilustra toda a dedicação e compromisso que torcedores como você possuem com o Corinthians. Grande abraço!”, diz a carta.
Os sócios e conselheiros do clube são chamados em grupos de 15. Dois deles confirmaram à Folha a presença no estádio em Itaquera nos jogos contra a Chapecoense, em maio, e contra o Santos, em junho.
“O clube precisa de transparência. Essa gestão mostra que sua marca é o uso da máquina para benefício de poucos. Os camarotes não foram alugados nem vendidos e estão sempre cheios. E o clube tem uma dívida impagável no estádio”, diz Romeu Tuma Jr., conselheiro de oposição.
“Posso falar sobre o meu camarote. Eu levo os meus convidados e o Corinthians não tem controle. Nem sabe quem eu levo. Ouvi algo sobre isso [sobre o uso dos camarotes]. Mas posso responder sobre o que acontece apenas no meu”, diz o conselheiro Paulo Garcia, locatário de um dos camarotes do estádio.
Com problemas para comercializar os espaços, o Corinthians vendeu ingressos avulsos na semifinal e final do Paulista. Os preços iam de R$ 320 a R$ 380. O clube afirma que 20 dos 89 camarotes estão alugados. A reportagem apurou que são 11.
O Corinthians precisa de dinheiro para pagar o financiamento do estádio, que custará cerca de R$ 1,64 bilhão com acréscimo de juros nas parcelas até 2028.
Roberto de Andrade se movimenta para obter apoio para um sucessor de sua chapa, que pode ser Andres Sanchez ou Paulo Garcia, um dos herdeiros da Kalunga. Seu grupo “Renovação e Transparência” está no poder desde 2007.
Um deles deverá enfrentar Osmar Stabile e Roque Citadini, ambos de oposição.
Com relação de aproximação nos últimos anos, Sanchez e Garcia devem compor chapa de muita força para as eleições. Ambos controlam grande número de conselheiros e são populares no clube.