Peça adapta livro de Antonio Prata de memórias infantis
‘Nu de Botas’ estreia hoje em São Paulo após temporada no Rio de Janeiro
No espetáculo, atores não mimetizam voz de crianças; narram casos como se conversassem com os espectadores
São experiências e descobertas de uma criança, mas narradas em tom adulto, quase filosófico. “Nu de Botas”, que estreia nesta sexta (23) em São Paulo após uma temporada no Rio, é uma adaptação teatral do livro homônimo de Antonio Prata sobre as memórias de infância do autor.
Ao versar o livro para o palco, a diretora Cristina Moura partiu de um preceito: apesar de serem narrados em primeira pessoa por uma criança, aqueles relatos tinham tamanha carga filosófica que requeriam um falar adulto. Assim, os cinco atores se revezam como protagonistas e personagens secundários sem mimetizar vozes infantis.
“Quase todos os contos tratam de dilemas”, diz ela, que adaptou o texto com Pedro Brício, integrante do elenco.
Como o trecho em que a criança, quando passeia com os pais de um coleguinha, teme dizer àqueles “estranhos” da vontade de ir ao banheiro: “Eu não sabia se todas as pessoas faziam cocô ou se aque- le era um problema meu”.
Para Brício, Prata expõe com essa filosofia infantil “quão patéticas e arbitrárias” são algumas convenções sociais a que sujeitamos.
“A minha ideia foi fazer a habilidade narrativa e verbal de um adulto, mas o pensamento maluco de uma criança”, conta o escritor e colunista da Folha, que teve a ideia para o livro quando foi convidado a voltar à escola de sua infância e ali lhe voltaram lembranças da época.
Na adaptação, foram selecionados 17 contos da obra. Alguns são encenados na íntegra, outros com cortes. Também foi trocada a ordem dos textos. Na peça, as histórias são agrupadas por temas, como família, amigos e curiosidades sexuais, afirma Brício.
A encenação de Moura, que tem um histórico de dança (integrou a companhia belga Les Ballets C de La B) e performance, vai por um caminho diferente dos trabalhos anteriores da diretora. Em “Nu”, ela dá mais espaço à palavra; os atores narram as histórias quase como se conversassem com o público.
O cenário simples tem alguns poucos elementos, como cadeiras e bancos. Cobertos de papel craft, os elementos vão sendo revelados ao longo do espetáculo.
“Acho o livro muito imagético, quase cinematográfico”, diz a diretora. “Queria criar na peça a mesma sensação que tive ao ler o livro: poder imaginar as cenas.” É como permitir ao público a capacidade de fabulação de uma criança. QUANDO sex. e sáb., às 21h30; dom., às 18h30; até 23/7 ONDE Sesc Belenzinho - teatro, r. Padre Adelino, 1.000, tel. (11) 2076-9700 QUANTO R$ 6 a R$ 20; 14 anos