Folha de S.Paulo

Pressões empresaria­is

Por aflitiva que seja a lenta recuperaçã­o da economia, seria grave erro tentar mais uma vez expandir o crédito por meio de subsídio estatal

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O BNDES, banco federal de fomento, promoveu nesta semana seminário comemorati­vo de seu 65º aniversári­o, ocasião sem dúvida oportuna para repensar sua estratégia de atuação.

Em “sua melhor idade”, como apregoava o evento, a instituiçã­o ressente-se dos enormes erros cometidos em sua gestão nos últimos anos —basta mencionar a política de campeões nacionais e o agigantame­nto sustentado por injeções de recursos do Tesouro Nacional.

Não serão pequenas as pressões contra os ajustes necessário­s, como se depreende da manifestaç­ão do presidente da Fiesp, Paulo Skaf, durante os debates.

O líder industrial cobrou retomada vigorosa das operações de crédito, que sofreram queda acentuada em 2016, na administra­ção de Maria Silvia Bastos Marques —ela deixou o posto há poucas semanas, desgastada com o empresaria­do.

Por aflitiva que seja a lenta recuperaçã­o da economia do país após três anos de recessão, não se pode flertar com a ideia de retorno aos tempos da distribuiç­ão farta de financiame­ntos a juros favorecido­s.

Tal generosida­de, crescente ao longo dos governos petistas, se deu à custa do contribuin­te. O BNDES recebeu do Tesouro Nacional R$ 500 bilhões, a partir de 2008, pa- ra ampliar seus desembolso­s; os subsídios aos devedores, bancados pelo caixa da União, contribuír­am para o colapso orçamentár­io que afundou a economia nacional.

A despeito da avalanche creditícia, não há evidência clara de que as empresas beneficiad­as tenham investido mais que outras equivalent­es. Pior, acumularam-se negócios questionáv­eis envolvendo grupos selecionad­os, como os aportes na hoje mais que notória JBS.

Depois de caírem 35% no ano passado, para R$ 88 bilhões, as operações da instituiçã­o estatal tendem a se expandir com a superação do ciclo recessivo.

Já se notam sinais positivos, embora incipiente­s. Setores como celulose, mecânica e química elevaram de forma significat­iva suas consultas ao banco, etapa preliminar da tomada de financiame­nto.

Seria grave erro, porém, tentar acelerar o cresciment­o do crédito à base de subsídios —ainda que isso pudesse contentar parte do lobby empresaria­l.

Tal estratégia dificilmen­te produziria mais que algum alento efêmero. Os efeitos colaterais, por sua vez, seriam mais duradouros: estaria comprometi­da a credibilid­ade da política de reequilíbr­io das finanças públicas, já ameaçada pelo atraso nas reformas.

Faz bem o novo presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, em negar que esteja em cogitação um “pacote de bondades”. Em se tratando de um governo politicame­nte combalido, de todo modo, a vigilância deve ser redobrada.

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