Folha de S.Paulo

Agonia de gigantes

-

RIO DE JANEIRO - No sábado (17), ao comentar a estreia de Eleanor Coppola, 81 anos, na direção de um filme, observei que, na Hollywood do século 20, cineastas muito menos idosos tiveram de se aposentar porque já não conseguiam que as companhias de seguros os bancassem —temia-se que ficassem gagás ou morressem durante a produção. Pois aconteceu que muitos desses cineastas sobreviver­am por 20 ou 30 anos, saudáveis, lúcidos, ociosos e amargurado­s.

Este foi o fim de carreira para Elia Kazan, Stanley Kramer, Joseph L. Mankiewicz e Frank Capra —somados, os Oscars conquistad­os por eles lotariam prateleira­s. Eu poderia ter citado também Arthur Penn, aposentado aos 67 anos; Robert Mulligan, aos 65; King Vidor, aos 64; Rouben Mamoulian, aos 59; e Nicholas Ray, incrivelme­nte, aos 52. Mas os mais humilhados foram os outrora gigantes Alfred Hitchcock e Billy Wilder.

Aos 64 anos, em 1963, Hitchcock fez sua última obra-prima, “Os Pássaros”. Dali em diante, começou a ser enquadrado pela Universal: atores impostos pelo estúdio, trucagens para economizar externas, perda da equipe que o acompanhav­a havia anos e longos intervalos entre um filme e outro —nenhum deles muito bom. O último, “Trama Macabra”, foi em 1976. Hitchcock passou os quatro anos seguintes indo todo dia à Universal, recebendo roteirista­s para discutir projetos que sabia que nunca viriam à luz. Morreu em 1980, com um problema tardio de alcoolismo.

A agonia de Billy Wilder foi muito pior. Durou 21 anos, de seu último filme, “Amigos, Amigos, Negócios à Parte”, com Jack Lemmon e Walter Matthau, em 1981, até sua morte, em 2002. Dia após dia, Billy ocupou sua velha sala na Paramount, mas para ser “consultor” de filmes alheios, a pedido do estúdio —que fingia acatar suas opiniões.

Longa carreira a Eleanor Coppola como diretora.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil