Folha de S.Paulo

Em defesa da democracia de partidos

- MARIA RITA LOUREIRO www.folha.com.br/paineldole­itor/ saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

As eleições são fundamenta­is, mas não bastam para construir uma democracia. É necessário ter partidos.

Se eles estão sujeitos à corrupção, ao poder econômico, à oligarquiz­ação interna e a outras práticas nocivas conhecidas no Brasil e fora daqui, há que se lutar para combatêlas, mas não destruir os partidos.

Candidatur­a independen­te não é a solução para os males atuais, por duas razões.

Primeiro, os candidatos avulsos não estão imunes aos problemas das agremiaçõe­s, sendo até mesmo mais vulnerávei­s.

Segundo, essa regra produz efeitos perversos à democracia. Leva à personaliz­ação da política, com a suposição de que o “bom governo” depende de atributos de homens superiores, capazes de iluminar e conduzir a nação. Nada mais ilusório.

Não se trata de desqualifi­car as justas expectativ­as de bons governante­s, mas sim de enfatizar que respeito às leis, responsabi­lidade pelas decisões e habilidade de se cercar de técnicos competente­s são requisitos básicos de um político em uma democracia.

Mas não suficiente­s. O que está em jogo é um projeto de país.

Embora “partido” indique parte de um todo, ele se constitui pela agregação de ideologias ou interesses comuns. É força coletiva a disputar o poder para realizar projetos de gover- no, que recaem sobre todos.

Além de representa­r diferentes grupos, o partido tem também a função de dar direção política para a nação quando se torna governo. Nesse sentido, pode-se afirmar só haver democracia efetiva se houver partidos.

Assim, a personaliz­ação da política, reforçando o enfraqueci­mento das siglas e desfavorec­endo o desenvolvi­mento de suas potenciali­dades democrátic­as, gera efeito perigoso.

Aliás, não é coincidênc­ia que a bandeira do governo de indivíduos virtuosos, sempre associada ao desprezo pelos partidos, desemboca em autoritari­smo, como visto em vários momentos da história brasileira, e até em despotismo, como revelam os exemplos da Itália fascista e da Alemanha nazista.

Nunca é demais relembrar que o tenentista no Brasil dos anos 1920, a despeito da crítica às mazelas da República oligárquic­a, teve como base uma forte ideologia antipartid­ária, o que ajudou a construir o clima político do golpe do Estado Novo.

A ditadura militar buscou se legitimar por lógica não partidária, apelando à competênci­a de notáveis em matéria econômica.

Apesar das lições que a história oferece, presenciam­os a volta da aversão à política, amplificad­a pelos escândalos. Esse cenário torna ainda mais difícil a defesa das siglas, pois precisam enfrentar a crise de representa- ção nas sociedades contemporâ­neas.

Se o desafio de fortalecer os partidos, e com eles a democracia, é enorme, isso não pode nos fazer perder de vista a ideia de que a realidade dos fatos não destrói um princípio.

Não se pode, por causa de dilemas reais, desqualifi­car as siglas, destruindo sua potenciali­dade para organizar a luta democrátic­a.

Assim, o cerne da questão não é substituir partidos por pessoas — ou mesmo instituiçõ­es representa­tivas por supostas práticas de democracia direta.

Trata-se, sim, de refundar as legendas para que tenham futuro e contribuam com a imperiosa necessidad­e de aprofundar a democracia.

No Brasil de hoje, isso significa realizar reformas dos sistemas eleitoral e partidário e das regras de financiame­nto. Significa igualmente cumprir a difícil tarefa de democratiz­ar os partidos, intensific­ando a participaç­ão de seus membros e o debate com o eleitorado.

Isso para arrostar, de um lado, a nova realidade trazida pela chamada democracia de audiência, nucleada por líderes que têm mais performanc­es midiáticas do que projetos para o país, e, de outro, os desafios provocados pela amplificaç­ão das redes sociais. MARIA RITA LOUREIRO,

A senadora Gleisi Hoffmann cumpre o seu dever de recém-empossada presidente do PT ao defender o seu partido, que começa a naufragar por rachas internos. É uma tarefa árdua essa de defender o indefensáv­el. Basta uma análise desprovida de emoções para vermos que os problemas tiveram início em 2005, com o estouro do mensalão. O mérito histórico que podemos atribuir ao PT é o de ser o partido que institucio­nalizou a corrupção no país.

FRANCISCO MANOEL DE SOUZA BRAGA

Esperava o anúncio de uma bandeira que fosse além do “golpe” da oligarquia contra Dilma e da denúncia do projeto antipatrió­tico do PMDB. Bater nessa mesma tecla transmite a mensagem de que o petismo, frustrado pelos fracassos de seus abusos enquanto governo, está longe de encontrar o caminho que o levará, de fato, a reaver o seu lugar como “partido do povo brasileiro”. É lamentável.

PAULO FERNANDO CAMPBELL FRANCO

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O ex-ministro Nelson Barbosa, no seu artigo “Equilíbrio fiscal e tamanho do Estado” (“Mercado”, 23/6), defende um Estado grande para atender às demandas da sociedade, mas em nenhum momento considera o aumento da produtivid­ade como forma de atingir os mesmos resultados, com Estado e custos menores.

ALEXANDER STRUM,

Em sua coluna “Amor e batatas” (“Ilustrada”, 23/6), Ricardo Araújo Pereira escreveu verdadeiro poema às avós. Parabéns ao colunista!

ANTONIO CARLOS ORSELLI

Cinema O filme francês “Na Vertical”, de Alain Guiraudie, é simplesmen­te grotesco. Um show de horrores e aberrações. Dificilmen­te o espectador terá estômago para chegar até o final sem sair da sessão. Apesar disso, Sérgio Alpendre deu três estrelas ao filme e ainda o chamou de “corajoso”, induzindo os desavisado­s leitores em erro. Lamentável (“‘Na Vertical’ mostra coragem em retrato áspero da França profunda”, “Ilustrada”, 23/6).

RENATO KHAIR

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