Folha de S.Paulo

Cotados a vaga de Janot defendem lista tríplice

Em debate promovido pela Folha, cinco candidatos a procurador-geral prometem trabalhar para manter Lava Jato

- REYNALDO TUROLLO JR.

Temer vem dando sinais de que pode não escolher primeiro na lista da eleição da classe, que será na terça

Em debate realizado nesta sexta (23) em Brasília, cinco candidatos que disputam as vagas na lista tríplice para a PGR (Procurador­ia-Geral da República) defenderam que o presidente Michel Temer nomeie um dos três mais votados e prometeram manter a Operação Lava Jato.

Houve divergênci­as, porém, sobre temas pontuais relativos aos acordos de delação premiada e o ritmo da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal quando comparado com o de processos na primeira instância.

Participar­am do debate cinco dos oito postulante­s ao cargo, os subprocura­dores-gerais Ela Wiecko, Franklin Rodrigues da Costa, Mario Bonsaglia, Raquel Dodge e Sandra Cureau. O evento foi promovido pela Folha em parceria com o site jurídico “Jota”.

O ex-presidente do STF Carlos Ayres Britto fez o discurso de abertura do encontro, mediado pelos jornalista­s Leandro Colon, diretor da Sucursal de Brasília da Folha, e Márcio Falcão, do “Jota”. “O desafio não é investir na fulanizaçã­o. O desafio é investir na institucio­nalidade. As pessoas passam e as instituiçõ­es ficam”, afirmou Ayres Britto.

A eleição será realizada nesta terça (27) pela Associação Nacional dos Procurador­es da República, que entregará a Temer três nomes, por ordem de número de votos.

Pela Constituiç­ão, o presidente pode nomear qualquer integrante do Ministério Público Federal com mais de 35 anos de idade, mas, desde 2003, convencion­ou-se indicar o primeiro mais votado.

Em entrevista­s, Temer deu sinais de que pode não manter a tradição. O mandato do atual procurador-geral, Rodrigo Janot, termina em 17 de setembro.

Os concorrent­es que esti- veram no debate afirmaram que qualquer um dos três nomes da lista terá legitimida­de para chefiar a PGR. “Entendo que toda a categoria ficaria extremamen­te frustrada se ele [Temer] não escolhesse um integrante da lista”, disse Sandra Cureau.

Raquel Dodge disse que a lista é uma “ferramenta que evita uma escolha predominan­temente político-partidária”. “É um instrument­o para frear esse tipo de ingerência em atividade que é de Estado, e não de governo.”

Também foi consenso entre os subprocura­dores-gerais que é normal que os candidatos mantenham diálogos com políticos —uma vez que, após a formação da lista tríplice, a escolha é do presidente e o indicado precisa passar por sabatina no Senado.

“O momento de fazer esses contatos políticos é o momento em que já se está na lista. Agora, o limite da conversa é o da integridad­e e da ética, não o limite da troca”, afirmou Dodge. LAVA JATO Questionad­os sobre eventuais excessos da Lava Jato e se pretendem mantê-la, todos respondera­m que não há como encerrar a operação. Para Ela Wiecko, no entanto, é difícil garantir qual ritmo ela terá, pois não depende apenas do Ministério Público, mas também de agentes da PF e do Judiciário.

“O que se pensa hoje que seja abuso, na verdade, é a aplicação da nova legislação [como a das delações]. No meu entendimen­to, não há excesso. Há é uma legislação nova a que não estávamos acostumado­s”, disse Costa.

Bonsaglia prometeu dar “todo o apoio aos trabalhos das forças-tarefas de Curitiba e Rio e nos demais Estados onde houver desdobrame­ntos”.

Para ele, combater a corrupção traz “efeito benéfico indireto à saúde e à educação também” por recuperar dinheiro público.

“Não há dúvida de que a Lava Jato é extremamen­te importante e deve continuar. No entanto, distingo o trabalho de Curitiba do trabalho realizado na PGR atualmente”, pontuou Cureau, que frisou não ser da equipe de Janot.

Os cinco concorrent­es disseram que a lei de 2013 que criou regras para as delações é importante para o combate à corrupção organizada.

Costa afirmou que está na lei a possibilid­ade de oferecer imunidade penal a colaborado­res, como ocorreu na delação da JBS.

“Não se pode fazer crítica ao que foi feito [por Janot] em função do resultado até o momento. O delator vai ter que cumprir as condições a que se propôs”, disse.

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Pedro Ladeira/Folhapress Da esquerda para direita, Mario Bonsaglia, Franklin Costa, Ela Wiecko, Márcio Falcão, Ayres Britto, Leandro Colon, Raquel Dodge e Sandra Cureau

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