CAÇA AO TESOURO
PF faz operação em busca de joias atribuídas à exprimeira-dama do Rio Adriana Ancelmo, mulher de Cabral, em casa de governanta ede irmã
Agentes da Polícia Federal cumpriram nesta sexta-feira (23) dois mandados de busca e apreensão para, pela terceira vez, tentar encontrar joias atribuídas à ex-primeira-dama do Rio, a advogada Adriana Ancelmo.
Pelas imagens divulgadas pela PF, pouco do “tesouro” adquirido pelo casal, segundo as investigações, foi encontrado.
Agentes foram às casas de Gilda Maria de Sousa Vieira, governanta da família do exgovernador Sérgio Cabral (PMDB), e de Núsia Ancelmo Mansur, irmã da ex-primeiradama. No último endereço encontraram 15 peças, entre anéis, brincos e colares.
Entre eles, está o par de brincos Dress, que, segundo a joalheria Antônio Bernardo, foi adquirido pela advogada em dezembro de 2009. O valor é de R$ 7.900, de acordo com informações dadas pela empresa ao Ministério Público Federal —baixo, considerando o preço das joias ainda não encontradas.
A Folha revelou no mês passado que as joias mais valiosas atribuídas a Ancelmo não foram encontradas pela PF no cumprimento de dois mandados de busca e apreensão no apartamento do casal, no Leblon (zona sul). Entre eles, um par de brincos com preço de R$ 1,8 milhão.
As informações sobre compras de joias pelo casal foram fornecidas aos investigadores pela H.Stern e Antônio Bernardo —a primeira firmou acordo de leniência e a segunda entregou dados e tenta fechar delação premiada. Elas descrevem compras de 221 peças desde o ano 2000 que, somadas, valem cerca de R$ 11 milhões.
A polícia já havia realizado buscas no imóvel do casal em 17 de novembro (quando Cabral foi preso) e 6 de dezembro (quando Ancelmo foi presa). Nas duas ocasiões, recolheu 127 joias e 13 relógios. Perícia da PF avaliou essas peças apreendidas em R$ 4,8 milhões.
Um dos brincos apreendidos nesta sexta assemelha-se muito ao de ouro adquirido por R$ 1,2 milhão na H. Stern em 2009, de acordo com informações da joalheria. Mas a diretora comercial da empresa, Maria Luiza Trotta, afirmou que a ex-primeiradama havia devolvido essa peça, como pagamento pela mais cara, de R$ 1,8 milhão, em 2013. Todas as peças serão submetidas a perícia, assim como as anteriores. GOVERNANTA A operação desta sexta começou após a Polícia Civil do Rio receber a informação de que Vieira tentara revender duas joias de Adriana Ancelmo à Antônio Bernardo. Ela declarou à joalheria que recebeu as peças como forma de pagamento.
Ao Ministério Público Federal, disse que, antes da prisão de Cabral, recebia cerca de R$ 10 mil por mês, sendo apenas R$ 3.000 registrados na carteira de trabalho, e o restante em dinheiro. Segun- do ela, desde março os pagamentos em dinheiro foram interrompidos, motivo pelo qual tentou revender as joias.
A Procuradoria acusa Cabral e Ancelmo de usarem a compra de joias como uma forma de lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio. As compras, de acordo com as investigações, eram feitas em dinheiro sem emissão de nota fiscal e registradas nas empresas por meio de um sistema paralelo para evitar a identificação do casal. OUTRO LADO O advogado Alexandre Lopes voltou a afirmar que as joalheiras atribuem de forma falsa a Adriana a compra dessas joias. “A H. Stern está atribuindo à Adriana Ancelmo, convenientemente, todas as vendas que fez sem nota fiscal. Ou alguém acha realmente que uma das maiores joalherias do mundo só vendeu sem nota fiscal para Adriana?”, disse Lopes.
Em depoimento à Justiça Federal, a ex-primeira-dama do Rio de Janeiro negou ter comprado joias de valor alto. Disse que ou as recebia de presente, sem saber a forma de pagamento, ou pagava as suas com cartão de crédito. SÉRGIO RANGEL,