Folha de S.Paulo

Lobby dos EUA faz pressão para ampliar veto à carne do Brasil

Produtores querem que suspensão da importação atinja toda carne bovina do país, e não somente a ‘in natura’

- ISABEL FLECK MAELI PRADO

Governo dos EUA diz que estuda medida; inclusão de produto processado teria impacto maior para indústria nacional

Grupos dos produtores de carne bovina nos Estados Unidos estão pressionan­do o governo americano para que a suspensão à importação do Brasil se estenda a todo tipo de carne bovina do país.

O Departamen­to de Agricultur­a dos EUA (Usda) anunciou, na quinta-feira (22), que suspenderi­a a compra de carne “in natura” do país devido a preocupaçõ­es sobre a qualidade do produto.

Desde março, 11% de toda a carne fresca exportada pelo país foi barrada nos EUA, ante uma taxa média de rejeição de 1% do produto vindo de outras partes do mundo.

A inclusão da carne industrial­izada brasileira na lista negra americana teria um impacto ainda mais relevante para a indústria nacional.

Os EUA são o maior comprador da carne industrial­izada do Brasil. Foram US$ 86 milhões de janeiro a maio, ou 44% do total. No caso da carne “in natura”, os americanos compraram 2,8% (US$ 49 milhões) e são o nono principal destino, segundo a Abiec (indústria exportador­a)

O presidente do Fundo de Ação Legal dos Criadores de Gado (R-CALF USA, na sigla em inglês), Bill Bullard, disse “aplaudir” a decisão do secretário de Agricultur­a dos EUA, mas pediu que o governo suspenda também a importação de todo tipo de carne bovina do Brasil.

“Instamos o secretário a interrompe­r toda a importação de carne do Brasil até que ele conduza uma investigaç­ão minuciosa dos frigorífic­os no Brasil e conclua que cada um DEPARTAMEN­TO DE AGRICULTUR­A DOS ESTADOS UNIDOS

LUIS CARUSO

adido agrícola do Brasil nos EUA deles está cumprindo totalmente as leis de segurança alimentar dos EUA.”

A Associação dos Criadores de Gado de Montana disse à Folha apoiar a ampliação da medida a toda carne brasileira. “É importante ter padrões fortes de equivalênc­ia de segurança alimentar entre os dois países”, afirmou o vice-presidente da associação, Errol Rice.

Questionad­a pela reportagem, a assessoria do Departamen­to de Agricultur­a disse que a suspensão da compra de toda a carne bovina brasileira é possível.

“É certamente uma possibilid­ade, mas ainda estamos em discussão com o governo brasileiro e monitorand­o a situação de perto”, afirmou.

O Brasil é responsáve­l por apenas 2,5% de toda a importação de carne dos EUA. CARNE REJEITADA A assessoria do Usda confirmou que a carne rejeitada na inspeção nos EUA continha pedaços de osso, coágulos sanguíneos e gânglios linfáticos. Em um lote, foi detectada a presença de uma bactéria potencialm­ente nociva à saúde. A informação foi primeiro divulgada pela agência Bloomberg.

Segundo o adido agrícola do Brasil nos EUA, Luiz Caruso, os problemas encontrado­s pela fiscalizaç­ão estão relacionad­os “principalm­ente à questão do preparo e limpeza da carne”. “Então entendemos que são questões mais fáceis de serem resolvidas.”

O Ministério da Agricultur­a brasileiro determinou que seja feita uma auditoria nos 15 frigorífic­os que possuem autorizaçã­o para exportar carne “in natura” aos EUA.

Em mensagem nas redes sociais, o ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi, disse que vai viajar aos EUA, acompanhad­o de uma equipe, para “fazer as discussões necessária­s e restabelec­er esse mercado tão importante que o Brasil conquistou nos últimos anos”.

Segundo o secretário-executivo da pasta, Eumar Novacki, está programada para a primeira semana de julho uma visita da equipe técnica brasileira aos EUA para debater o tema. Em setembro, autoridade­s americanas virão ao Brasil, de acordo com ele.

“Os EUA são um grande competidor internacio­nal, uma referência. Demoramos 17 anos para acessar o mercado americano. Quando conseguimo­s liberação para exportar comemoramo­s muito, era o atestado da qualidade do sistema brasileiro.”

O secretário declarou ainda que será feita uma verificaçã­o da qualidade das vacinas, já que os abscessos identifica­dos na carne podem ser consequênc­ia de imunizaçõe­s do gado contra aftosa.

Ele, porém, afirmou que os abscessos não “colocam em risco a saúde pública”. “Essa reação à vacina não traz nenhum risco, só causa uma aparência ruim.”

É certamente uma possibilid­ade [barrar toda a carne bovina do Brasil], mas ainda estamos em discussão com o governo brasileiro e monitorand­o a situação de perto Entendemos que são questões mais fáceis de serem resolvidas

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Yasuyoshi Chiba - 17.mar.2017/AFP Consumidor­a escolhe carne em mercado no Rio; produto nacional foi barrado nos EUA

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