Folha de S.Paulo

Consumo da peça do animal com abscesso divide especialis­tas

- FILIPE OLIVEIRA JOANA CUNHA

Os abscessos, formações purulentas ou fibrosas encontrada­s em carnes brasileira­s e que motivaram o fechamento do mercado dos Estados Unidos para o produto, resultam de falhas durante a aplicação de vacinas ou na limpeza da carne, segundo a avaliação de especialis­tas.

Sua presença em uma parte do animal não significa que toda a carne dele esteja con- denada. Porém não há consenso entre os especialis­tas ouvidos pela reportagem sobre segurança do consumo de peças que o apresentam.

Pedro de Felício, veterinári­o e professor aposentado da Unicamp, afirma que, após a vacinação contra a febre aftosa, o animal pode reagir com uma inflamação na área da aplicação, que dá origem ao abscesso.

Partes do animal onde eles se desenvolve­m devem ser eliminadas no abate. Os abscessos não tornam o consumo da carne prejudicia­l à saúde, diz.

Por outro lado, Angélica Pereira, professora da FMVZ (Faculdade de Medicina Veterinári­a e Zootecnia da USP), afirma que abscessos favorecem a formação de coágulos sanguíneos e proliferaç­ão de bactérias nas peças de carne que os possuem.

Como consequênc­ia, há uma redução do prazo de validade e risco para saúde do consumidor. Se houver contaminaç­ão, ele pode ter febre, vômito e diarreia, de acordo com Pereira.

Paula Spinha, professora de medicina veterinári­a da universida­de Anhembi Morumbi, pondera que é possível que abscessos não sejam identifica­dos mesmo durante inspeções adequadas.

“Ele pode estar no interior de um grupo muscular. “Não se retalha toda a carne durante a inspeção.”

Apesar do aspecto ruim, eles não impedem o consumo do restante da carne, diz. “Eles são encapsulad­os pelo organismo do animal, e a bactéria não se dissemina.”

Emílio Salani, vice-presidente do Sindan (que reúne as indústrias produtoras de vacina), nega que a vacina tenha causado o problema. “Temos um sistema de controle rígido de todo o processo. O controle é feito pela indústria e pelo ministério”, afirma.

A Abiec (Associação Brasileira da Indústria Exportador­a de Carne) afirma que está tomando “ações corretivas” para adequar os processos produtivos para retomar as exportaçõe­s para o mercado dos Estados Unidos.

EMILIO SALANI

vice-presidente do Sindan

Temos um sistema de controle rígido de todo o processo. O controle é feito pela indústria e pelo ministério A indústria de carne bovina brasileira atuacom responsabi­lidade e segue altos padrões de vigilância

ABIEC

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