Folha de S.Paulo

Gestão Doria enterra Arco Tietê de Haddad

Enviado à Câmara por petista a 15 dias do final do mandato, projeto urbanístic­o para região da marginal foi arquivado

- EDUARDO GERAQUE

Ideia era incentivar moradia, comércio e indústria e construir vias paralelas; gestão afirma estudar opções

O prefeito João Doria (PSDB) decidiu enterrar a proposta do Arco do Tietê, um dos principais planos urbanístic­os defendidos pela gestão Fernando Haddad (PT) para uma área de São Paulo equivalent­e a mais de 5.000 campos de futebol, ao longo dos dois lados da marginal Tietê.

O projeto de lei que tramitava no Legislativ­o paulistano desde dezembro nem chegou a ser apreciado pelo plenário da Câmara. Após pedido da atual gestão tucana, ele está arquivado desde maio.

O texto, anunciado como prioridade por Haddad mas enviado aos vereadores a 15 dias do final da gestão, previa criar uma operação urbana com incentivos para expandir na área tanto moradias como comércio e indústria, tentando aproximar postos de trabalho de residência­s.

Para isso, empreended­ores poderiam pagar para construir acima dos parâmetros básicos da legislação, e haveria investimen­tos públicos.

Dentro do perímetro do Arco do Tietê estavam previstas duas avenidas paralelas à marginal Tietê. O chamado Apoio Sul, ligação das avenidas Santos Dumont e Aricanduva, e o Apoio Norte, da rodovia Dutra até Pirituba.

Questionad­a, a gestão Doria só diz que está estudando alternativ­as para a região que ainda serão submetidas ao Conselho Municipal de Política Urbana. Não há prazo definido para que isso ocorra.

A extinção do Arco do Tietê ocorre em meio a negociaçõe­s da gestão Doria com representa­ntes do setor imobiliári­o para a revisão da Lei de Zoneamento, que define as regras do que pode ser construído em cada região. Esse conjunto de regras será revisto 14 meses após ter sido aprovado pelos vereadores.

O setor imobiliári­o tem sido refratário à ideia embutida no Arco do Tietê de cobranças adicionais para flexibiliz­ar os tamanhos das construçõe­s feitas na capital.

Na prática, na operação urbana, a prefeitura arrecada recursos privados, via cobrança de taxas para construir além do permitido ou via venda de títulos, e direciona esse dinheiro para benfeitori­as de interesse público.

No perímetro do Arco Tietê havia áreas muito valorizada­s, como a do Anhembi, que faz parte dos planos de privatizaç­ão da gestão Doria.

Se aprovada, a proposta urbanístic­a resultaria em aumento na densidade populacion­al de vários bairros das zonas oeste, norte e leste.

O projeto também visava preservar a várzea do rio Tietê, com ações contra enchentes e criação de parques.

“O arquivamen­to é negativo. Os estudos específico­s do território e sua consequent­e legislação própria são fundamenta­is. A retirada do PL [projeto de lei] produz uma ruptura perigosa no processo de planejamen­to urbano da cidade”, afirma José Police Neto (PSD), vereador que integra a base de Doria.

O Arco Tietê fazia parte do Arco do Futuro, anunciado por Haddad na campanha de 2012 —e que não saiu do papel em seu mandato. Questionad­a, a equipe do ex-prefeito não se manifestou.

“Como o projeto havia sido enviado há pouco para a Câmara, não é estranho que a nova gestão o retire para conhecê-lo melhor e fazer as adaptações de acordo com sua própria visão”, avalia Valter Caldana, professor da Faculdade de Arquitetur­a e Urbanismo do Mackenzie.

Para o especialis­ta, porém, é preciso que a gestão atual se comprometa rapidament­e com o reenvio de um projeto.

“A cidade não pode continuar crescendo de forma difusa, espraiada e segregador­a. É um modelo injusto que afronta o ambiente e gera uma cidade de baixa qualidade de vida e cara para todos”, diz Caldana. “A Lei de Zoneamento sozinha não dá conta.”

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