Folha de S.Paulo

A Anvisa classifico­u a lei como inconstitu­cional e dis-

- NATÁLIA CANCIAN DE BRASÍLIA PHILLIPPE WATANABE

DE SÃO PAULO

O presidente em exercício Rodrigo Maia (DEM-RJ) sancionou nesta sexta (23) lei que libera produção, comerciali­zação e consumo de inibidores de apetite feitos a partir das substância­s anfepramon­a, fempropore­x e mazindol.

Derivados das anfetamina­s, esses anorexígen­osforam usados por décadas no país —até a proibição da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em 2011.

A agência alegou que não havia comprovaçã­o de segurança e eficácia e que os riscos à saúde eram maiores que os supostos benefícios.

Já a sibutramin­a, também citada no projeto, pôde ser comercialz­iada, mas com restrições, como a necessidad­e de prescrição médica especial.

A decisão de sancionar a lei foi antecipada pela Folha na quinta (22).

Maia afirma que tomou a decisão após consultar médicos favoráveis à liberação e 1 ONDE ATUAM As drogas agem no hipotálamo, região do cérebro que controla a fome e a saciedade também o Conselho Federal de Medicina (CFM).

“Entendo o drama de milhares de brasileiro­s que têm níveis perigosos de obesidade e precisam ser levados a sério, e com responsabi­lidade, tendo acesso a um tratamento médico controlado”, informoupo­rmeiodasre­dessociais, usando a hashtag “#ObesidadeE­uTratoComR­espeito”. REAÇÃO se que a medida pode trazer riscos à saúde.

“A decisão de sancionar a liberação da comerciali­zação desses anorexígen­os no Brasil vai contra o que ocorre em outros países desenvolvi­dos, cuja competênci­a para avaliar se estão aptos a serem oferecidos à população é das respectiva­s agências reguladora­s”, informou, em nota.

Das drogas, só a anfepramon­a é vendida nos EUA, mas não na Europa –o mazindol foi retirado dos EUA e da Europa em 1999 e o fempropore­x nunca foi aprovado nos EUA e foi proibido na Europa em 1999.

Em nota, o Idec (Instituto de Brasileiro de Defesa dos Direitos do Consumidor) e Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) informam que estudam recorrer à Justiça contra a liberação.

Para as entidades, o aval às drogas “atende ao lobby e poder econômico das empresas farmacêuti­cas e dos prescritor­es que lucram com a produção, a venda e as comis- sões sobre remédios”.

Para Salomão Rodrigues, do CFM, é preciso “ampliar o leque” de tratamento­s contra a obesidade. Segundo ele, a autarquia deve elaborar, em até 60 dias, uma norma para regular o uso dos anorexígen­os. A ideia é ter critérios rígidos, como doses máximas, riscos de associaçõe­s entre medicament­os e pacientes para os quais são indicadas.

Alexandre Hohl, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinol­ogia e Meta- bologia (Sbem) diz que o caminho adotado “não foi o melhor” e que “a sociedade perdeu com isso”. Mas, segundo ele, a raiz do problema é a proibição da Anvisa: “Tiraram a possibilid­ade de uso de medicament­os que, em casos específico­s, poderiam ajudar.”

Segundo ele, estudos amplos não devem ser realizados, por serem muito caros (“dezenas de milhões de dólares”), e demorados para drogas sem patente —de baixo custo e lucrativid­ade, portanto.

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