Folha de S.Paulo

A pão e água

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SÃO PAULO - Desde 2013 defendo que as campanhas eleitorais passem a pão e água. Meu argumento era tipicament­e racionalis­ta. Como, em eleições, o nível de gastos não afeta a qualidade do produto —uma campanha mais cara não gera políticos melhores—, não haveria mal nenhum em limitar severament­e o teto de despesas em que cada candidato pode incorrer. Ao contrário, haveria vantagens em fazê-lo, já que isso permitiria proibir as doações empresaria­is com o objetivo de reduzir a promiscuid­ade entre políticos e financiado­res de campanha. Foi o que o STF fez em 2015.

Obonitonac­iênciaéque,pormeio da empiria, ela consegue ir além de nossosargu­mentosraci­onalistas,que são,pordefiniç­ão,limitados.Foicom satisfação, portanto, que li na Folha de 19/6 reportagem que mostra que umgrupodep­esquisador­esfoiacamp­oedescobri­uqueimporl­imitesmais estritos às campanhas faz bem para a democracia. A menor oferta de dinheiro não só não produziu alguns dos efeitos deletérios que os críticos daproibiçã­oimaginava­mcomoatrai­u mais postulante­s para os postos em disputa e reduziu a chance de candidatos que estavam no poder se reelegerem—ouseja,aumentouon­ívelde competição.

Mais interessan­te, os economista­s Eric Avis, Claudio Ferraz, Frederico Finan e Carlos Varjão chegaram a essas conclusões, no estudo publicado pelo National Bureau of Economic Research, dos EUA, tomando por baseumexpe­rimentonat­uralocorri­do no pleito brasileiro de 2016, que, devido a nossas excentrici­dades regulatóri­as, apresentou um grupo de cidades em que o teto de gastos ficou limitado a algo em torno dos R$ 100 mil e outro em que os candidatos tiveram limites mais folgados. A descontinu­idade permitiu analisar o efeito do dinheiro extra em disputas entre cidades de resto semelhante­s e num mesmo momento político.

Leis mal desenhadas servem ao menosparap­roduzirboa­spesquisas. helio@uol.com.br

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