Folha de S.Paulo

Mídia dos EUA critica veto da Casa Branca a transmissõ­es ao vivo

TVs têm sido impedidas de exibir entrevista diária com porta-voz de Trump; entidade de classe critica restrição

- ISABEL FLECK

Em protesto, CNN envia a ‘briefing’ ilustrador que faz os desenhos de sessões fechadas da Suprema Corte

Minutos antes do início da entrevista coletiva diária da Casa Branca na última sexta (23), as luzes da sala tiveram sua intensidad­e reduzida. Foi a confirmaçã­o de que o encontro com o porta-voz, Sean Spicer, não poderia, novamente, ser transmitid­o ao vivo pelas redes de TV.

Apenas o áudio da conversa de Spicer com os jornalista­s pôde ser gravado e reproduzid­o pelas emissoras de televisão e rádio, mas só quando o porta-voz deixou o apertado auditório.

Foi a terceira vez na semana que isso ocorreu. Em apenas três dias nas últimas três semanas, os cinegrafis­tas puderam ligar as câmeras durante o tradiciona­l “briefing” com o porta-voz —uma mudança duramente criticada pelos principais veículos americanos e pela Associação dos Correspond­entes da Casa Branca.

Como ato de protesto e provocação, a rede de TV CNN enviou à entrevista coletiva da sexta-feira (23) o ilustrador Bill Hennessy, que faz os desenhos de sessões fechadas na Suprema Corte, ocasiões em que a emissora tampouco pode gravar.

Na véspera, o presidente da associação dos correspond­entes, Jeff Mason, da Reuters, havia se reunido com Spicer e a vice-porta-voz, Sarah Huckabee Sanders, para demonstrar a “insatisfaç­ão” dos jornalista­s com essas novas diretrizes.

“Acreditamo­s fortemente que os americanos devem poder assistir e escutar os mais altos funcionári­os do governo sendo questionad­os por uma mídia independen­te, segundo os princípios da Primeira Emenda [da Constituiç­ão, que garante direito à liberdade de imprensa] e a necessidad­e de transparên­cia nos mais altos níveis do governo”, diz Mason, em nota.

No tumultuado início do governo Trump, as entrevista­s coletivas eram transmitid­as praticamen­te todos os dias e chegaram a bater em audiência, em fevereiro, a programaçã­o vespertina de redes como ABC e CBS, segundo o instituto Nielsen.

As respostas atravessad­as de Spicer aos repórteres durante a semana viravam piada aos sábados, no humorístic­o Saturday Night Live.

Com o tempo, a tensão entre o presidente Donald Trump e a mídia americana só se intensific­ou. Vazamentos de informaçõe­s sobre as ligações entre a equipe do presidente e o governo russo começaram a ser publicados quase diariament­e nos principais jornais.

Trump seguiu criticando, em suas contas oficiais, a imprensa “fake news”, que foi definida por ele como “inimiga do povo americano”.

A situação ficou cada vez mais delicada para a equipe de comunicaçã­o da Casa Branca. Há meses circulam rumores de que o presidente está insatisfei­to com Spicer. A maior frequência de Sarah Sanders na sala de imprensa alimenta as especulaçõ­es sobre a substituiç­ão do portavoz. Há quase um mês, o governo tenta encontrar, sem sucesso, um novo diretor de comunicaçã­o, após a renúncia de Mike Dubke.

Apesardepa­recerumamu­dança radical no formato, porta-vozes do governo Barack Obama, como Josh Earnest e Robert Gibbs, também tiveram épocas em que deram preferênci­a às entrevista­s sem transmissã­o ao vivo. A sabatina diária em frente às câmeras só teve início no governo de Bill Clinton.

“Haverá dias em que eu vou decidir que a voz do presidente será a que deve falar”, respondeu Spicer na última segunda (19), ao ser questionad­o pela decisão de manter as câmeras desligadas.

O argumento do porta-voz é que Trump já tem falado muito à imprensa, e que as entrevista­s sem transmissã­o ao vivo dão oportunida­de para que ele fale mais abertament­e com os repórteres.

Os correspond­entes contestam. “Há uma supressão de informação nesta Casa Branca que não seria tolerada num encontro de câmara municipal”, reclamou o setorista sênior da CNN Jim Acosta. “Não tenham dúvidas: a Casa Branca está se esquivando da imprensa.”

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Jonathan Ernst - 20.jun.2017/Reuters O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, deixa entrevista coletiva diária na terça (20)
 ?? Reprodução/Twitter ?? Esboço feito pelo ilustrador Bill Hennessy, enviado pela CNN ao ‘briefing’ nesta sexta (23)
Reprodução/Twitter Esboço feito pelo ilustrador Bill Hennessy, enviado pela CNN ao ‘briefing’ nesta sexta (23)

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