Folha de S.Paulo

Um governo em ruínas

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BRASÍLIA - Sábado, 13h. O ministro da Justiça, Torquato Jardim, marca uma entrevista de última hora. Fala por menos de três minutos, foge das perguntas dos repórteres e deixa sozinho à mesa o diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello.

Episódios constrange­dores e de comunicaçã­o desastrosa sobram no governo de Michel Temer, mas esse merece um lugar cativo: um ministro convoca a imprensa para bancar a permanênci­a de quem ele já decidiu trocar, faltando apenas coragem para fazê-lo. Aos jornalista­s o mesmo ministro evita garantir Daiello na direção da PF e ainda o abandona na frente das câmeras.

O governo Temer vive dias de préqueda do governo Dilma Rousseff. Sem rumo, agoniza na Esplanada expondo falhas de estratégia, erros primários de comunicaçã­o, agenda internacio­nal desprezíve­l, e deslizes em votações essenciais como a da reforma trabalhist­a no Senado.

Depois de uma retomada de fôlego político nas semanas seguintes à revelação da delação da JBS, Temer termina o mês de junho em seu pior momento desde a divulgação do áudio do encontro com Joesley Batista.

Das ruas, o apoiou minguou, conforme mostra o Datafolha. Além dos pífios 7% de ótimo ou bom, em um ano subiu de 31% para 69% a avaliação “ruim ou péssimo” sobre o governo. Caiu de 42% para 23% a parcela que vê a gestão como “regular”.

É diante deste cenário que a Procurador­ia-Geral da República denunciará o presidente logo mais — no mínimo por corrupção passiva— em razão de sua relação com a JBS.

Impopular, investigad­o, provavelme­nte denunciado, e cada vez mais isolado, Temer não demonstra reação política. Aposta tudo na suposta fidelidade de uma base no Congresso e no discurso de que ele, Temer, é essencial na condução das reformas. O governo ficará inviável quando a mesma base perceber que o presidente se transformo­u em um problema e que não precisa mais dele no Planalto para aprová-las.

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