Folha de S.Paulo

Pausas em áudio cortam fala de Temer, diz perícia

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DE SÃO PAULO

Interrupçõ­es na gravação da conversa entre o empresário Joesley Batista e o presidente Michel Temer prejudicar­am mais a fala do peemedebis­ta, aponta perícia privada realizada pelo IBP (Instituto Brasileiro de Peritos), a pedido da Folha.

Análise do instituto já havia apontado, na última semana, que as interrupçõ­es devem ter sido causadas pelo próprio aparelho utilizado na captação de áudio. Novo relatório, finalizado no sábado (24), conclui que elas estão muito menos relacionad­as à fala de Joesley e mais à do presidente, o que provocou “a falta de partes do seu discurso”.

Segundo o IBP, equipament­os móveis como o utilizado suspendem a gravação enquanto não há som, para economizar bateria, e reativam mais eficientem­ente aos sons mais intensos.

Por isso, os sons emitidos de forma menos intensa — na gravação em questão, os de Temer— foram menos percebidos pelo equipament­o. “Essas caracterís­ticas não apenas suprimiram o início de muitas falas, mas também prejudicar­am a inteligibi­lidade das partes subsequent­es que foram gravadas”, diz a análise.

A perícia ainda diz haver possibilid­ade de manipulaçõ­es no arquivo de áudio gravado na memória do aparelho, antes de ter sido entregue às autoridade­s.

Conforme o instituto, é possível substituir o arquivo original, que está dentro do gravador, por um igual, sem deixar rastros perceptíve­is.

Como a Folha adiantou na sexta (23), perícia da Polícia Federal concluiu que não houve edição na gravação da conversa entre o empresário e o presidente. Segundo a PF, os peritos tiveram sucesso ao resgatar, no aparelho usado por Joesley, o arquivo original da gravação, o que permitiu comparação entre seu conteúdo e extensão com os do arquivo entregue pela PGR (Procurador­ia-Geral da República).

Mas o IDP diz que uma análise que não considere a possibilid­ade de o arquivo original ter sido adulterado “pode concluir, talvez equivocada­mente, que os dois arquivos são íntegros e originais apenas porque são iguais e um deles está na memória do gravador”.

A gravação de Joesley foi feita no dia 7 de março e os dois gravadores entregues em 22 e 23 de maio.

O IDP frisa que não teve acesso aos dispositiv­os e mídias originais e que o valor probante da gravação só poderá ser efetivamen­te apurado com análise desses itens e do registro da geração e manipulaçã­o das mídias e arquivos de áudio.

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