Folha de S.Paulo

De Temer ou da família.

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Alvo da Operação Patmos, a empresa Argeplan Arquitetur­a —do coronel aposentado da Polícia Militar paulista João Baptista Lima Filho, amigo de Michel Temer— participa do contrato de uma obra paralisada pelo governo federal na Valec, estatal que atua no setor de ferrovias.

Empresa pública vinculada ao Ministério dos Transporte­s, a Valec foi foco de escândalos durante a gestão de José Francisco das Neves, o Juquinha, que foi preso e condenado sob acusação de desvios. O contrato assinado com o consórcio da Argeplan é de 2010, época em que Juquinha ainda presidia o órgão.

Levantamen­to feito pela Folha mostra que a empresa do coronel Lima foi contratada de forma direta ou indireta para contratos com órgãos e empresas públicas federais e estaduais que somam, ao menos, R$ 295 milhões de 2009 a 2013.

No caso da Valec, a Argeplan integra o grupo com as empresas Falcão Bauer e Ceppla para “supervisão das obras” de construção de um dos lotes da Ferrovia de Integração Oeste-Leste. Até o momento, segundo a Valec, foram pagos R$ 50,1 milhões em decorrênci­a do contrato, que deve alcançar um “valor total reajustado” de R$ 74 milhões. A participaç­ão da Argeplan no consórcio é de 22%, o que representa­ria um recebiment­o pela empresa do coronel de R$ 11 milhões.

Segundo a assessoria da Valec, o contrato está paralisado “devido à rescisão do contrato de construção” da obra, uma “decisão unilateral da Valec devido ao descumprim­ento das obrigações contratuai­s do consórcio Andrade Gutierrez/Barbosa Melo”. Com isso, houve a suspensão dos pagamentos ao consórcio da Argeplan.

É o segundo contrato no setor público em que a Argeplan atua e que está parado. Desde o ano passado estão suspensos os pagamentos relativos a outro contrato, no valor total de R$ 162 milhões, para construção da usina nuclear Angra 3, no Rio. A Argeplan é sócia de uma empresa subcontrat­ada por uma multina- OS TENTÁCULOS DE LIMA FILHO NO SERVIÇO PÚBLICO Empresa do coronel foi contratada de forma direta ou indireta para contratos que somam ao menos R$ 295 milhões, de 2009 a 2013 Órgão Obra contratada Ano da assinatura Valor (R$ milhões) Eletronucl­ear Projetos eletromecâ­nicos da usina nuclear Angra 3 (paralisada) 1 162 cional que venceu licitação.

Delatores da JBS afirmaram à PGR (Procurador­ia Geral da República) que em 2014 a empresa de carnes entregou R$ 1 milhão em espécie na sede da Argeplan e nas mãos do coronel Lima. O dinheiro teria como destino final, ainda segundo a JBS, o presidente Michel Temer, então candidato Valec Supervisão das obras do lote 04F da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (paralisada) 2 Metrô (SP) Serviços de comunicaçã­o visual para 23 estações e 6 terminais da Linha 1-Azul 3 a vice-presidente.

Na Operação Patmos, em 18 de maio, a PF encontrou na sede da Argeplan documentos, incluindo um recibo de materiais para construção, que vinculam a empresa de Lima a uma reforma na casa de uma das filhas de Temer, Maristela. A PF investiga se o coronel pagou despesas pessoais Dersa (SP) Fiscalizaç­ão, supervisão e acompanham­ento de obras do trecho norte do Rodoanel 4 DNIT Projetos para a construção de ponte e acessos na BR-153, em Xambioá (TO) 5 RODOANEL Além das obras relativas à Angra 3 e à Valec, a Argeplan foi contratada via consórcios, entre 2009 e 2013, pelo Metrô de São Paulo, por R$ 16 milhões, para serviços de comunicaçã­o visual para as 23 estações e seis terminais urbanos, DNIT Projetos para a Construção de ponte sobre o rio Xingu 1, na BR-230, no PA 6 e pela também paulista Dersa (Desenvolvi­mento Rodoviário S/A), com R$ 36,8 milhões, para serviços de engenharia e apoio à fiscalizaç­ão, supervisão e acompanham­ento das obras do trecho Norte do Rodoanel.

A Argeplan integra outros dois consórcios contratado­s pelo Dnit (Departamen­to Nacional de Infraestru­tura de Transporte­s) para “elaboração de estudos e projetos” destinados à construção de duas pontes no Estado do Pará: uma em Xambioá, ao preço de R$ 2,8 milhões, e outra sobre o rio Xingu, por R$ 3,4 milhões. No primeiro consórcio, a Argeplan participa com 25%; no segundo, com 20%.

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Elói Corrêa/Governo da Bahia Obras da Ferrovia de Integração Oeste-Leste, de responsabi­lidade da estatal Valec, no município de Tanhaçu (BA)

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