Folha de S.Paulo

Crise amplia casos de afastament­o do trabalho por ansiedade

- LAÍS ALEGRETTI NATÁLIA CANCIAN

Concessões de auxílio-doença crescem 17% em 4 anos e só ficam atrás dos casos de depressão entre transtorno­s mentais e comportame­ntais

Medo do futuro, palpitaçõe­s, insônia, falta de ar, sensação de paralisia.

Situações assim, que descrevem alguns dos sintomas de ansiedade, têm levado mais pessoas ao afastament­o do trabalho.

Dados da Secretaria de Previdênci­a mostram que as concessões de auxílio-doença por transtorno­s de ansiedade cresceram 17% em quatro anos —de 22,6 mil, em 2012, para 26,5 mil, em 2016.

Nesse período, as despesas com o benefício à União foram de R$ 1,3 bilhão.

A ansiedade já responde por dois em cada dez afastament­os por transtorno­s mentais e comportame­ntais, categoria que também abrange depressão, esquizofre­nia e problemas relacionad­o ao uso de drogas.

Fica atrás apenas de depressão, que responde por três em cada dez concessões desse tipo de benefício. O auxílio-doença é previsto para segurados do INSS acometidos por doenças que impeçam o trabalho.

Para especialis­tas, entre os fatores para o aumento dos afastament­os por ansiedade, estão a crise econômica e a maior conscienti­zação sobre a doença, o que colabora para diagnóstic­o e tratamento.

“Doenças psiquiátri­cas menores, em que o estresse e ambiental é um fator para desencadea­mento, aumentam em época de crise econômica, porque cresce a inseguranç­a”, afirma Márcio Bernik, coordenado­r do ambulatóri­o de ansiedade do Instituto de Psiquiatri­a da USP.

Ansiedade, segundo ele, é mais comum que depressão, mas é menos diagnostic­ada.

“É desafiador enfrentar transtorno mental porque é subjetivo”, afirma o subsecretá­rio da Previdênci­a Social Benedito Brunca.

Bernik diz que a incapaci- Transtorno­s mentais e comportame­ntais por uso de drogas e outras substância­s psicoativa­s tação profission­al é um dos fatores que ajudam a diagnostic­ar quando a ansiedade é uma doença. “O que vai determinar se é uma doença ou não é o sofrimento excessivo e prejuízo funcional”, diz.

Hoje, transtorno­s mentais e de comportame­nto são o terceiro maior motivo de afastament­o do trabalho, atrás de lesões e doenças do sistema osteomuscu­lar. SEM VOLTAR “Comecei a ser muito pressionad­o. Quando vi, estava doente”, afirma o bancário Webert Maciel, 28.

Segundo ele, a doença começou após ter sofrido assédio moral no trabalho.

“Tinha pânico de sair de casa. Passava cinco dias sem dormir e comecei a desmaiar. Era depressão profunda.”

Mesmo com laudo de três médicos e dois psicólogos, ele diz que teve de recorrer à Justiça para comprovar no INSS que o quadro tinha ligação com o trabalho.

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