Folha de S.Paulo

Acesso seja controlado.

- FABRÍCIO LOBEL MARIANA ZYLBERKAN

DE SÃO PAULO

Assim que a última pá de terra cobriu o caixão de Dirce Machado, 59, no cemitério municipal Campo Grande, na zona sul de São Paulo, um coveiro se aproximou da família. Como se cochichass­e, disse que poderia fazer um jardim de flores sobre o túmulo. A homenagem sairia R$ 300, pagos ali, na hora, e sem recibo.

David da Cruz, filho de Dirce, achou a abordagem inapropria­da e negou o pagamento. “Estavam tentando se aproveitar da nossa fragilidad­e naquele momento para induzir a cobrança de um serviço que não era regular.”

Desinforma­ção, constrangi­mento, falta de estrutura, cooptação de funerárias particular­es e tentativa de cobrança de taxas extraofici­ais são problemas enfrentado­s por quem sepulta parentes e amigos em São Paulo.

A prefeitura, que detém o monopólio dos serviços funerários na cidade, anunciou que deve concedê-los à iniciativa privada, assim como a administra­ção dos 22 cemitérios municipais, na expectativ­a de cortar despesas e melhorar a qualidade da atividade, segundo a gestão João Doria (PSDB).

Hoje, a saga das famílias começa na porta do IML (Instituto Médico Legal) ou do SVO (Serviço de Verificaçã­o de Óbitos). São esses dois órgãos que emitem atestados de óbito quando a morte ocorre em circunstân­cias que devem ser apuradas, como em casa ou em locais públicos e de forma violenta.

Logo nessa fase, a família pode ser assediada por agentes funerários particular­es que atuam de forma irregular na capital. Eles trabalham em funerárias de cidades da Grande São Paulo, onde suas atividades são permitidas, e ficam a postos na frente dos dois órgãos à espera de “negócios”.

A falta de informação e o momento delicado das famílias são terreno fértil para os agentes abordarem e venderem pacotes funerários que custam até R$ 5.200. Quem aceita a oferta enterra o parente em cemitérios da região metropolit­ana de SP. CAMINHO DIFICULTAD­O Desde o final do ano passado, as direções do IML e do SVO decidiram dificultar o trabalho desses agentes e instalaram, dentro de cada órgão, contêinere­s com funcionári­os do serviço funerário municipal.

Antes, os interessad­os que apareciam nesses locais para organizar um enterro tinham que ir até um posto de atendiment­o fora dali, o que facilitava os atravessad­ores.

Incomodado­s com a queda da clientela, esses agentes funerários reagiram. Um deles entrou com pedido de abertura de inquérito do Ministério Público acusando dirigentes do IML e SVO de prestar indevidame­nte serviços funerários dentro dos órgãos. Mas o pedido foi arquivado em abril.

Ao mesmo tempo, altos funcionári­os dos dois órgãos registrara­m boletins de ocorrência na polícia após ameaças de morte recebidas por mensagens de celular. Um deles passou a andar com segurança particular e carro blindado. A Polícia Civil está investigan­do as denúncias.

Para dificultar a ação dos agentes, o Ministério Público tenta transforma­r o entorno dos órgãos em área de segurança nacional, para que o SAGA Após os trâmites no IML e no SVO, o caminho correto para a família é contratar da prefeitura um kit com caixão, flores e ornamentos, além de taxas pelo sepultamen­to e pelo transporte do corpo até o cemitério. Os preços vão de R$ 263 a R$ 20 mil (famílias carentes têm opção gratuita).

Os preços do kit são determinad­os pelo tipo de caixão escolhido. Há 22 opções, mas em abril apenas nove modelos eram encontrado­s nas agências. O tipo mais em conta custa R$ 138, no entanto nem sempre está disponível.

A falta de acesso à versões mais baratas, aliada ao receio em relação à qualidade do material, faz a maioria das famílias gastar mais para enterrar seus parentes —46% compram o caixão que custa R$ 843. Apenas 19% escolhem um dos modelos mais baratos. Entre esses dois, há apenas um tipo de caixão com preço intermediá­rio, ao custo de R$ 634.

Segundo agentes do serviço funerário, porém, ele quase nunca está disponível e, por isso, representa apenas 3% das vendas da prefeitura.

A urna mais barata encontrada pela secretária Claudia Santos, 38, para enterrar sua mãe custava custava R$ 717, além de ornamentos. Ela conta que se preocupou com a qualidade do material para aguentar o peso.

“Perguntei se o caixão era

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