Folha de S.Paulo

O melhor do Brasil: procura-se

-

O PRIMEIRO desafio do Corinthian­s era marcar o melhor jogador do Brasileirã­o, Luan, sem ter seu volante titular. A marcação corintiana é por zona, mas o natural é que o cabeça-de-área se encontre com o meia centraliza­do muitas vezes.

Paulo Roberto foi escolhido para substituir Gabriel e cuidar de Luan, mas o primeiro sinal foi de que poderia se dar bem. Um desarme no campo de ataque e a infiltraçã­o até ameaçar Marcelo Grohe com uma finalizaçã­o torta.

A vitória do Corinthian­s nasceu exatamente dos dois jogadores que se cruzaram o jogo todo. Paulo Roberto escapou pela esquerda, Luan não desarmou e a bola chegou para Jadson finalizar. Lembrou a finalizaçã­o de Marcelinho, gol do título da Copa do Brasil de 1995.

A missão de Paulo Roberto não

CRIAÇÃO DE UM JEITO

era fácil. Não é simples acompanhar Luan. Ele não é um 10. Não no sentido que ainda se procura no futebol brasileiro. Na história, havia o camisa 10 meia-armador, como Gérson, e o ponta-de-lança, como Zico. Luan não tem a caracterís­tica de nenhum deles, mas é ponta-de-lança.

Dos bons. Se o volante adversário para na sua frente, busca o espaço. Enquanto Paulo Roberto o domava, Pedro Rocha aparecia do lado esquerdo, no corredor de Fagner (veja ilustração). Até Luan descobrir as costas de Fagner e criar chance de gol, num passe para Geromel finalizar.

O Corinthian­s marcou e abdicou de ter a posse de bola. O Grêmio criou com Michel, Arthur, Luan, Pedro Rocha... Imaginava-se este desenho do jogo.

Não diremos aqui que o Corinthian­s soube sofrer, porque esse novo clichê do futebol brasileiro significa tomar sufoco e vencer. Não saber sofrer é quando se leva um baile e se perde. O Corinthian­s não levou um baile. Marcou. Acima de tudo, marcou.

Exemplo de que era marcação por zona e que nem sempre funcionou apareceu aos 19 minutos do

CRIAÇÃO DE OUTRA MANEIRA

segundo tempo, quando Luan foi perseguido até o meio-campo por Paulo Roberto. A bola passou e Luan também. Pedro Rocha ganhou de Fagner e Luan finalizou da risca da pequena área, com Arana – não Paulo Roberto– tentando intercepta­r o passe.

Cássio tirou essa. Depois, salvou o pênalti também.

O goleiro tinha de ser fundamenta­l numa partida cujo primeiro tempo terminou com 48% de posse de bola corintiana e o segundo tempo teve 42%.

O Grêmio passou nos últimos quarenta dias a impressão de ser o time mais envolvente do Brasil. Mas não conseguiu superar a defesa corintiana.

Há uma tentação neste país que vende jogadores e muda elencos a cada semestre de encontrar o melhor time do país. O Grêmio chegou a ser chamado assim. Mas é como o nome do álbum do Titãs, de 2001, “A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana.”

Não é possível eleger o melhor time do Brasil uma vez por mês. O melhor time do Brasil não existe.

Também não é o Corinthian­s, que tem uma diferença enorme em relação a todos os demais. Desde 2008, escolheu um estilo.

Isso aparece quando os técnicos respeitam esta história, de Mano Menezes, de Tite, de Fábio Carille. Com Cristóvão, com Oswaldo de Oliveira e com Tite em crise, 2013, o Corinthian­s levava mais do que um gol por partida. Neste ano, a lógica de seu estilo de jogo voltou.

Não é possível eleger o melhor time do Brasil uma vez por mês. O melhor time do Brasil não existe

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil