Folha de S.Paulo

A consagraçã­o de Carille

- JUCA KFOURI

PAULO ROBERTO era reserva do Sport quando o Corinthian­s quis contratar o titular Rithely no Recife.

Jogou três vezes como lateral-direito para substituir Fagner e Fábio Carille o elogiou.

Só para mantê-lo de moral alto, foi o entendimen­to de todos, porque o defensor não tem nem cacoete de lateral.

Quando Gabriel ficou mais uma vez suspenso, exatamente antes do embate com o Grêmio, e o técnico imediatame­nte anunciou que Paulo Roberto jogaria e não Camacho, como era de se supor, admito, achei um exagero. Pois não foi. Paulo Roberto, 30 anos, decidiu a partida entre os líderes do Brasileirã­o.

Duas vezes, como se fosse o Paulinho de outras conquistas alvinegras, ele apareceu como elemento surpresa e arrebentou com a defesa do Grêmio.

Na primeira, no começo do jogo, se antecipou a Luan, partiu com a bola do meio de campo para cima de Geromel, o deixou no chão, entrou na área e só não abriu o placar na primeira investida corintiana porque Marcelo Grohe salvou com as pontas dos dedos.

Na segunda, já na etapa final, teve requintes de crueldade.

Em nova arrancada com a bola dominada, Paulo Roberto deu um drible da vaca em Geromel, ajudado pelo toque na bola, por trás, de Luan, e passou da linha de fundo para Jô deixar a bola passar para Jadson chutar entre as pernas do goleiro gremista.

Estava aberta a porta para a mais valiosa vitória alvinegra neste Brasileirã­o, contra o time que joga o futebol mais vistoso do país, que estava 100% em casa e sem sofrer nem um gol sequer.

Se já eram poucas as dúvidas sobre o desempenho corintiano depois dos triunfos mais recentes, ontem foram sepultadas de vez, o que está de longe de significar que o time será heptacampe­ão.

Claro que o desempenho decisivo de Paulo Roberto também está longe de ter sido o único motivo para a vitória espetacula­r.

Cássio foi além de pegar o pênalti mal cobrado por Luan.

Porque pegou, também, um tirambaço de Pedro Rocha, um toque à queima-roupa de Luan e mais dois chutes de dentro da área, um deles do argentino Gáston.

Balbuena evitou que o mesmo Luan pegasse o rebote do pênalti e poucos se lembrarão do detalhe.

Romero, mais uma vez, se matou para evitar a permanente busca de envolvimen­to por parte do habilidoso time gaúcho.

Carille não admitirá, nem pode, mas o melhor que poderia acontecer ao Corinthian­s seria a eliminação da Copa Sul-Americana, para poder ter dedicação total apenas ao Brasileirã­o.

Exigir mais deste elenco alvinegro é até desumano e a equipe tem jogo no meio da semana, na Colômbia, contra o Patriotas.

A prova do protagonis­mo corintiano está nos 54 mil torcedores que lotaram a Arena Grêmio, pois é o time a ser batido neste momento dentro do país.

Se cada jogo é uma decisão, se o pensamento não pode ir além da próxima partida como diz Carille, nada melhor do que limpar da frente disputas menos importante­s.

Porque se é muito cedo para antecipar o título, não é para afirmar que o Corinthian­s tem tudo para ficar entre os primeiros e garantir sua vaga na próxima Libertador­es, o prêmio de quem vence a SulAmerica­na.

O Corinthian­s surpreende­u e deixou de ser surpresa.

Só o técnico acreditou em Paulo Roberto, o volante que era reserva no Sport e foi decisivo

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