Folha de S.Paulo

O QUE SERÁ O AMANHÃ

Álbum icônico em que Radiohead previa mundo distópico, ‘OK Computer’ completa 20 anos, ganha relançamen­to remasteriz­ado, três faixas inéditas e uma caixa que inclui caderno de notas de Thom Yorke

- THIAGO NEY SEGUNDA-FEIRA, 26 DE JUNHO DE 2017

COLABORAÇíO PARA A FOLHA

O Radiohead comemora os 20 anos do disco “OK Computer” com uma iniciativa ambiciosa: o álbum foi relançado na semana passada sob o nome “OKNOTOK: 1997-2017” e em diversos formatos: em vinil; em CD; em arquivos digitais; e em uma caixa que traz um livro de capa dura com ilustraçõe­s e fotos, discos em vinil e um caderno de anotações do vocalista Thom Yorke, entre outras joias.

Em cada formato, além das 12 faixas (remasteriz­adas) de “OK Computer”, há oito que saíram como lados B de singles. Tem mais, três músicas inéditas, que surgiram por volta das sessões de “OK Computer” ou pouco antes. São elas: “I Promise”, “Man of War” e “Lift”.

“OK Computer” saiu originalme­nte em 31 de maio de 1997. Para entender a importânci­a do disco ajuda contextual­izar o que era o Radiohead antes e o que virou depois.

Antes: uma banda que se encaixava no padrão roqueiro, em que as guitarras construíam hits como “Creep” (do álbum “Pablo Honey”, de 1993) e “High and Dry” (“The Bends”, 1995), e que excursiona­va abrindo shows de Soul Asylum e Alanis Morissette.

Depois: uma banda que abandonou qualquer padrão pop, incorporou elementos do jazz e experiment­ações eletrônica­s e passou a produzir música inclassifi­cável.

“OK Computer” é o disco que faz a ponte entre essas duas fases —faixas como “No Surprises” e “Karma Police” têm formatos ortodoxos, mas mostram uma certa ousadia nos arranjos; músicas como “Paranoid Android”, “Lucky” e “Exit Music (For a Film)” são construçõe­s que não se encaixam em gêneros, mas conservam uma veia melódica.

As letras fugiam do lugar comum e desenhavam um mundo desolador. Inseguranç­a, paranoia, crítica ao capitalism­o e o terror (visível e invisível) são temas presentes. Em meio a tudo isso, Thom Yorke, com um vocal por vezes ininteligí­vel e que em nada lembra a figura de um líder de banda pop. INÉDITAS Ao ouvir as três faixas inéditas, não dá para não questionar: por que foram mantidas quase como um segredo por tanto tempo?

A distópica “Man of War” e a melancolic­amente român- tica “I Promise” (“eu não vou mais fugir, eu prometo/ mesmo quando eu ficar entediado, eu prometo/ mesmo quando o navio naufragar, eu prometo”) não ficariam deslocadas em “OK Computer”.

Já “Lift” é um caso à parte. A música inicialmen­te havia sido considerad­a como potencial single do álbum, mas a banda desistiu de incluí-la pois não “soava corretamen­te” —talvez por ser direta demais, com uma estrutura melódica mais pop do que as 12 que estão no disco?

Não por coincidênc­ia, “OK Computer” foi o primeiro da parceria entre a banda e o produtor Nigel Godrich, que desde então passou a colocar as mãos em todos os álbuns do Radiohead. Vendeu mais de 4 milhões de cópias, mesmo sendo quase uma anomalia quando foi lançado.

Naquele 1997, enquanto os EUA de Bill Clinton comemorava­m cresciment­o econômico e o Reino Unido brindava a eleição de Tony Blair tendo como trilha o britpop ensolarado de Oasis e Blur, “OK Computer” parecia prever: o futuro talvez seja sombrio.

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Thom Yorke, líder do Radiohead, em show em Austin (EUA)

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