Folha de S.Paulo

Brilhante, ‘Fargo’ termina a terceira temporada sem fechar todas as tramas

- TETÉ RIBEIRO

O best-seller argentino “El Jardín de Bronce”, de Gustavo Malajovich, ainda não foi traduzido para o português, mas o público brasileiro já pode ver sua adaptação para a TV.

O livro, e agora série da HBO, conta a história de um pai em busca da filha desapareci­da. “O Jardim de Bronze” estreou simultanea­mente em toda a América Latina no domingo (25).

Na trama, o arquiteto Fabián Danubio (Joaquín Furriel), vê a filha de 6 anos pela última vez enquanto ela entra com a babá no metrô de Buenos Aires. A capital surge “como um personagem”, define o ator. “A série mostra locais pouco conhecidos, o expectador verá a cidade não de maneira turística, mas real.”

Em outras produções, há bons exemplos da sinergia promovida entre os países latinos, como a série “O Hipnotizad­or” (2015), gravada no Uruguai com atores locais, argentinos e brasileiro­s e falada em espanhol e português.

A mistura, porém, não é regra. Apesar da estreia ao mesmo tempo no continente, toda a mão de obra de “O Jardim de Bronze” é argentina.

“Questões econômicas são as menos relevantes, pensamos mais em uma estratégia criativa”, justifica Roberto Rios, vice-presidente corporativ­o de produções originais da HBO Latin America.

“Buscamos histórias fiéis às suas origens”, diz Rios. “O conteúdo tem aptidão natural em seu próprio mercado, mas lidamos com um público aberto a outras culturas.”

A ideia é ir contra o conceito hollywoodi­ano de homogeneiz­ar o produto final. “Nosso objetivo é contar as histórias da maneira mais impactante possível. Não passamos tinta branca por cima de nada. Trocamos advogadas por prostituta­s se isso deixar a trama mais aguda.”

O padrão de qualidade é monitorado com o envolvimen­to da HBO em todo o processo. Rios afirma que as equipes criativas gostam de ter os executivos por perto. “Nos colocamos no lugar do espectador ideal, que viu ‘Game of Thrones’ [também produzida pelo canal] e vem com muita bagagem.” NA TV O Jardim de Bronze ONDE na HBO, dom., às 21h

Se esta tiver sido mesmo a última temporada da série “Fargo”, dá para dizer sem medo de errar que foi uma das melhores criações recentes da TV. Está lá em cima na lista, ao lado de veteranas como “Sopranos”, “The Wire” e “Breaking Bad”.

O episódio final da terceira temporada, que foi ao ar nesta última semana, se chama “Somebody to Love”, mesmo título da canção da banda Jefferson’s Airplane que toca no final do filme “Um Homem Sério” (2009), dos irmãos Coen. Os diretores são os mesmos do longa de 1996 que inspirou a série, cheia de referência­s a outros filmes da dupla.

Mas essa é outra história, uma outra maneira de assistir ao programa de TV, para os fãs dos cineastas se divertirem descobrind­o as pistas. E, como as duas primeiras temporadas de “Fargo”, essa terceira teve novo elenco, nova trama, mas mesmo clima do filme que deu origem.

Se você não quer saber de spoiler, melhor parar aqui.

Com ótimos diálogos, cenas impression­antes e direção impecável, o episódio final termina exatamente do jeito que o primeiro começa: numa cena em que um funcionári­o do governo e um suspeito se sentam frente a frente em uma mesa numa sala vazia, cada um com uma versão diferente da mesma história.

A justiça é feita de modo misterioso, e não completame­nte. Nem todo mundo sobrevive, nem todas as respostas são dadas. Todos os personagen­s centrais que conti- nuavam vivos até aqui estão atrás de um acerto de contas. Nem todos conseguem.

Nikki Swango (Mary Elizabeth Winstead), a bandida que perdeu o namorado e parceiro Ray Stussy (Ewan McGregor), troca a ambição de ficar rica pela fome de vingança. Ela quer matar o homem que matou seu homem, no caso Emmit Stussy (também Ewan McGregor).

Emmit Stussy, o irmão que sobrou a McGregor, finalmente se rebela contra o manipulado­r V.M. Varga (David Thewlis). Sai vivo e rico da associação com o empresário bandido, mas ainda está na mira tanto de Nikki quanto da policial Gloria Burgle (Carrie Coon).

Gloria, incansável, finalmente se cansa. E pede demissão. Explica para o filho de 13 anos que não está preparada para contar tudo o que aconteceu ao avô dele, e justifica: “Há violência em se descobrir que o mundo não é como a gente imagina”.

A série pula cinco anos, e o duelo final acontece em uma sala de aeroporto, onde Gloria, agora trabalhand­o na Homeland Security, interroga Varga. Ela tem certeza que ele será preso naquele momento. Ele tem certeza que será solto. E quando isso acontecer, ele diz, “você saberá seu lugar no mundo”. Mas o público não terá essa resposta. PRODUÇÃO irmãos Coen ELENCO Ewan McGregor, Mary Elizabeth Winstead e David Thewlis AVALIAÇÃO ótimo

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Goran Bogdan, Andy Yu e DJ Qualls em cena do oitavo episódio do terceiro ano da série

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