Folha de S.Paulo

GOVERNO ENCURRALAD­O PF vê obstrução de investigaç­ão por Temer

Relatório deve embasar nova denúncia da PGR, desta vez por anuência à compra de silêncio de Eduardo Cunha

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Laudo pericial oficial identifica trechos que eram inaudíveis em áudio de conversa de Joesley com presidente

Após acusar formalment­e o presidente Michel Temer (PMDB) de corrupção passiva nesta segunda-feira (26), a PGR (Procurador­ia-Geral da República) terá cinco dias para apresentar uma segunda denúncia contra ele, por obstrução de Justiça.

Este é outro crime apontado no relatório final da Polícia Federal entregue ao STF (Supremo Tribunal Federal) também nesta segunda.

No documento, a PF afirma que o presidente atuou para embaraçar as investigaç­ões da Lava Jato e deixou de comunicar as autoridade­s sobre suposta corrupção de membros do Judiciário e do Ministério Público.

Os delegados entenderam com base na gravação feita por Joesley Batista no Palácio do Jaburu que a “única interpreta­ção possível” é de que o presidente incentivou a continuaçã­o de pagamentos para Eduardo Cunha (PMDBRJ), ex-presidente da Câmara, para que ele ficasse em silêncio —o ex-deputado federal está preso no Paraná desde outubro de 2016.

A polícia concluiu que o mesmo crime foi cometido por Joesley e pelo ex-ministro Geddel Vieira Lima, este último por ter manifestad­o interesse em manter paga- mentos a Lucio Funaro, apontado como operador de Cunha e preso desde julho do ano passado.

Sobre Temer, a PF afirma que o presidente atuou “por embaraçar investigaç­ão de infração penal praticada por organizaçã­o criminosa, na medida em que incentivou a manutenção de pagamentos ilegítimos a Eduardo Cunha, pelo empresário Joesley, ao tempo que deixou de comunicar autoridade­s competente­s de suposta corrupção da magistratu­ra federal e do Ministério Público que lhe fora narrado pelo mesmo empre- sário”.

No pedido de abertura de inquérito feito ao Supremo, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou que Temer deu anuência para a compra de silêncio de Cunha e Funaro. TRECHOS Entre outros elementos, Janot se baseou em trecho do diálogo do presidente com o Joesley no Palácio do Jaburu para sustentar que houve obstrução de Justiça.

O procurador-geral afirmou que, na conversa, Temer ouviu de Joesley que o ex-pre- sidente da Câmara estava sendo pago para ficar em silêncio e sobre o assunto respondeu: “Tem que manter isso, viu?”, o que seria um aval.

A conversa divulgada à imprensa, porém, continha trechos inaudíveis —uma perícia realizada pela PF conseguiu desvendar algumas palavras no episódio.

Após a fala de Temer, Joesley usou a expressão “todo mês”, segundo o laudo —o que indica acertos em dinheiro, de acordo com o que o empresário afirmou em seu acordo de delação premiada fechada com a PGR.

O relatório da polícia seguiu na mesma linha, com a interpreta­ção de que o diálogo significou o incentivo da compra do silêncio.

Segundo o relatório da polícia, os membros do chamado “PMDB da Câmara” temiam que Cunha e Funaro falassem o que sabem sobre fraudes na Caixa.

Na semana passada, a polícia havia finalizado outra parte da investigaç­ão, que apontou para a prática do crime de corrupção passiva, alvo da primeira denúncia da PGR, entregue nesta segunda ao STF.

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Jorge William - 14.jun.2017/Agência O Globo O ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures ao chegar à Polícia Federal para fazer exame de corpo de delito, no dia 14

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