Folha de S.Paulo

Por que Temer não cai?

-

SÃO PAULO – Por que Michel Temer não cai? Moralmente, ele já está liquidado. Deixou-se apanhar numa gravação em que se comporta de modo incompatív­el com o cargo. O caso jurídico contra ele também é sólido. Talvez não seja tão apodítico quanto quer Rodrigo Janot, mas a denúncia oferecida nesta segunda certamente mereceria ser posta à prova num julgamento perante o STF.

O presidente, porém, vai se agarrando ao cargo. Ele tem o apoio do empresaria­do, ainda que este se torne cada vez mais tíbio, à medida que fica claro que o governo não conseguirá entregar um pacote de reformas à altura da encrenca fiscal.

Temer também encontra sustentaçã­o num grupo relativame­nte coeso de parlamenta­res. E bastam 172 deputados —um terço da Casa— para assegurar que a denúncia de Janot contra o presidente não avance e também para bloquear um eventual processo de impeachmen­t. Esses congressis­tas acreditam, a meu ver erroneamen­te, que a manutenção de Temer será capaz de estancar a sangria da Lava Jato.

O fator mais notável a dar sobrevida a Temer, porém, é uma ausência. Não há, pelo menos até aqui, um movimento popular forte exigindo sua saída. Se há algo que as ciências sociais são ruins em explicar é a eclosão de protestos generaliza­dos. A literatura oferece apenas umas poucas pistas, que não são das mais animadoras para os que desejam ver o presidente expelido do cargo.

O surgimento de manifestaç­ões maciças já foi correlacio­nado à inflação, particular­mente à inflação de alimentos, e, paradoxalm­ente, a cresciment­o econômico recente (que, por alguma razão, passa a ser visto como ameaçado). Nenhum dos dois elementos está presente no Brasil hoje, já que a inflação é cadente e o cresciment­o, após dois anos de recessão, não passa de uma pálida memória.

Se não houver mudanças nesse quadro, teremos de aturar Temer até 2019. helio@uol.com.br

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil