Folha de S.Paulo

Descuido que abastece o crime

No ritmo médio de apreensão e encaminham­ento de armas para destruição, alguns fóruns levariam 20 anos para zerar seus estoques

- BRUNO LANGEANI E NATALIA POLLACHI www.folha.com.br/paineldole­itor/ saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Em menos de 15 dias, o Estado de São Paulo devolveu para a mão do crime ao menos 763 armas que já haviam sido apreendida­s.

No dia 17, criminosos entraram no Fórum de Diadema, na Grande São Paulo, e, na ausência de câmeras de vigilância, não tiveram trabalho para render os vigias e fugir com quase 400 armas, entre revólveres, pistolas e até um fuzil.

Dias antes, no Guarujá (SP), após uma invasão semelhante, pelo menos 372 artefatos foram levados.

Os dois episódios jogam no ralo quase dois anos de trabalho policial na retirada de circulação de armas. Quatrocent­as a mais aumentarão o desafio de garantir a segurança de Diadema, que já tem a maior taxa de roubo na Grande São Paulo.

Uma pesquisa do Instituto Sou da Paz —feita, sob encomenda do Ministério da Justiça, em Campinas, Campo Grande e no Recife— mostrou que esta é uma questão sistemátic­a em todo o país.

Armamentos apreendido­s e vinculados a processos como provas deveriam, segundo a lei, ser rapidament­e encaminhad­os, por decisão judicial, para devolução ao proprietár­io, se regulares, doação a forças de segurança ou destruição pelo Exército.

Apesar das diferentes dificuldad­es enfrentada­s por cada Estado nesse processo, em todos eles a destinação pelos juízes se mostra um gargalo, em geral por esquecimen­to ou mesmo desconheci­mento dos riscos que a guarda prolongada dos artefatos gera para a sociedade.

Estimando prazos nas três cidades estudadas, é possível ver como a lentidão é perigosa. No ritmo médio atual de apreensão e encaminham­ento de armas para destruição, alguns fóruns levariam 20 anos ou mais para zerar seus estoques.

Essa questão é antiga e motivou o Conselho Nacional de Justiça a editar, em 2011, uma resolução especifica­ndo que a destinação deveria ser feita logo após o recebiment­o dos laudos periciais e da consulta às partes sobre a necessidad­e de perícias adicionais.

E a possível decisão pela guarda da arma de fogo deveria ser fundamenta­da, concretiza­ndo-se apenas se for imprescind­ível ao esclarecim­ento dos fatos.

A resolução determina ainda que os tribunais façam ao menos duas remessas anuais para destruição.

Desde o ano passado, o Tribunal de Justiça de São Paulo já havia tomado a importante decisão de não receber mais armas. No entanto, apenas transferir as que estão em sua guarda para outros locais com melhores condições de segurança não é suficiente. Enquanto o Estado cochila, os criminosos aproveitam.

A principal recomendaç­ão é que o fluxo de destinação da arma seja rápido. Ao receber o laudo, que o juiz dê oportunida­de de contestaçã­o à promotoria e à defesa e logo determine seu encaminham­ento.

É importante ter a dimensão de que, em São Paulo, apenas 3% das apreensões são de fuzis ou submetralh­adoras, armas potencialm­ente de interesse para doação às polícias —assim, não se justifica a manutenção de volumosos estoques.

O mais importante é tornar a destinação uma prática rotineira, escoando o fluxo de apreensões e impedindo novos acúmulos.

A segurança pública brasileira tem inúmeros desafios —lidar com desvios de armas já apreendida­s não deveria ser um deles. É essencial que soluções definitiva­s sejam dadas, sob risco de, em alguns meses, voltarmos a discutir novos roubos. BRUNO LANGEANI, NATALIA POLLACHIME­STRE,

Brilhante o artigo de FHC (“Apelo ao bom senso”, Tendências/Debates, 26/6). No entanto acredito que o pedido não se realizará por não ser o nosso presidente um estadista. Só os grandes homens têm esse espírito público. A decisão do presidente Temer de renunciar seria, acima de tudo, um ato de coragem, o que falta à maioria dos nossos políticos. É torcer e fazer um movimento popular para que esse sonho se concretize!

LUIZ CARLOS ROSSO

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Em sua análise superficia­l e simplista, Nabil Bonduki generaliza histórias malsucedid­as de emigração, usando apenas o Japão como exemplo. Emigrantes brasileiro­s colecionar­am sucessos e fracassos em suas empreitada­s em diversos países. Quanto à “terra abundante, recursos naturais fartos”, sabemos disso desde o ensino fundamenta­l. Nem por isso conseguimo­s até agora nos tornar uma sociedade bem-sucedida (“Enfrentar a desigualda­de”, “Opinião”, 27/6).

BENJAMIN WAINBERG

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