GOVERNO ENCURRALADO Temer vê revanche de Janot e insinua que ele obteve propina
Em discurso duro, presidente diz que denúncia de procurador é ‘ficção’
Peemedebista critica participação de exassessor de Janot em escritório que negociou acordo com a JBS
O presidente Michel Temer fez nesta terça-feira (27) o seu mais agressivo ataque ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a quem acusou de “revanche, destruição e vingança” ao denunciá-lo por corrupção passiva.
Em uma escalada pública e estratégica para salvar seu mandato, Temer disse que Janot se vale de “ilações” para acusá-lo sem provas e insinuou que o procurador recebeu dinheiro de um ex-assessor do Ministério Público.
O presidente deu a entender que o ex-procurador Marcelo Miller, a quem chamou de “homem da mais estrita confiança” de Janot, repassou a ele parte dos honorários recebidos ao ter deixado o cargo, em março, para atuar em um escritório de advocacia que negociou o acordo de leniência da JBS.
“Talvez os milhões de honorários recebidos não fossem unicamente para o assessor de confiança, que, na verdade, deixou a PGR para trabalhar nessa matéria. Mas eu tenho responsabilidade e não farei ilações”, disse.
Segundo Temer, Miller “ganhou milhões em poucos meses” o que, segundo ele, “levaria décadas para poupar”.
No discurso, o peemedebista ainda fez questão de desqualificar a denúncia apresentada por Janot na segunda-feira (26) ao STF (Supremo Tribunal Federal), que o acusa de ser o destinatário da mala de R$ 500 mil entregue pela JBS ao seu ex-assessor Rodrigo Rocha Loures.
Temer pediu “provas concretas”. Disse que Janot realizou um “trabalho trôpego”, utilizou “provas ilícitas”, fez uma peça de ficção e teve como objetivo “parar o país”.
“As regras mais básicas da Constituição não podem ser esquecidas e jogadas no lixo, tripudiadas pela embriaguez da denúncia, que busca a revanche, a destruição e a vingança. E ainda assim fatiam a denúncia para provocar fatos contra o governo, querem parar o país, em um ato político de denúncias frágeis e precárias”, declarou.
Na tentativa de demonstrar força política, o presidente convocou uma claque para o pronunciamento. As duas primeiras fileiras foram reservadas para parlamentares da base aliada.
Loures representou os interesses de Michel Temer em todas as ocasiões em que esteve com representantes do Grupo J&F 2 A conversa gravada com Joesley Batista PGR: Diálogo tem sequência lógica e coerente. Temer tentou “escamotear” o encontro porque sabia que os assuntos tratados seriam “escusos”
Temer e Joesley ainda combinaram manter a prática de encontros noturnos e secretos no Palácio do Jaburu 3 O relacionamento com Joesley Batista PGR: Cita depoimento em que Joesley afirma que se encontrou com o presidente de 15 a 20 vezes nos últimos anos e o empréstimo de um avião em 2011
A relação ilícita entre Joesley Batista e Michel Temer é antiga, habitual e estável, estando longe, portanto, de uma relação episódica 4
Onde estão as provas concretas de recebimento desses valores? Inexistem TEMER: A gravação não é uma prova jurídica válida e já foi contestada por peritos, incluindo um que foi contratado por ele mesmo
Na pesquisa feita seriamente pela Polícia Federal, pelo seu Instituto de Criminalística, está dito que há cerca de 120 interrupções TEMER: Diz que o encontrou porque era um grande empresário e, na ocasião, era o “maior produtor de proteína animal do país, senão do mundo”
Eu descobri o verdadeiro Joesley, o bandido confesso, junto com todos os brasileiros, quando ele revelou os crimes que cometeu O aval para a compra de silêncio de Eduardo Cunha PGR: A suspeita de obstrução não é detalhada nessa denúncia, mas é mencionada como um indício de que o presidente tratava de crimes com Joesley. No pedido de inquérito feito ao Supremo Tribunal Federal, ainda em abril, a Procuradoria-Geral da República considerou a fala de Temer uma anuência ao pagamento de propina feito para Eduardo Cunha por Joesley TEMER: Diz que a frase “tem que manter isso” não tinha relação com o aval a pagamentos para o ex-deputado e afirma que Cunha já desmentiu a história
O que está dito na sequência de uma frase que o cidadão disse que é amigo de um ex-deputado, mantém boa amizade, eu digo: mantenha isso O QUE TEMER NÃO COMENTOU > Acusação de que Rocha Loures ajudaria a solucionar uma demanda de interesse de Joesley no Cade > A afirmação de que Rocha Loures era de sua “mais estrita confiança”
Para o presidente, Janot inaugurou uma nova categoria do Código Penal, a da “ilação”, e tenta imputar contra ele um “ato criminoso” sem provas jurídicas ou políticas. Ele disse ser vítima de “uma infâmia de natureza política” e de ataque “injurioso, indigno e infamante” à sua dignidade pessoal.
“Onde estão as provas concretas de recebimento desses valores? Inexistem. Aliás, examinando a denúncia, eu percebo que reinventaram o Código Penal e incluíram uma nova categoria, a denúncia por ilação”, afirmou.
O presidente também fez questão de elevar o nível dos ataques ao empresário Joesley Batista, da JBS, a quem chamou de “bandido confesso” e de “grampeador”, uma referência à gravação feita por ele de conversa com o peemedebista, no dia 7 de março no Palácio do Jaburu.
Ele atacou os termos do acordo de delação premiada fechado por ele com o Ministério Público Federal, pelo qual o executivo acabou não sendo preso.
“Ele foi trazido até de chapeuzinho. É interessante, ele veio de boné para se disfarçar. Nós não precisamos andar de boné, não temos o que disfarçar”, disse, em referência a uma imagem recente de Joesley ao chegar para depor na Polícia Federal, em Brasília.
Para reforçar que pretende seguir no cargo, o peemedebista disse ter orgulho de ser presidente e soltou: “Para mim é algo tocante, é algo que não sei como Deus me colocou aqui, dando-me uma tarefa difícil, mas certamente para que eu pudesse cumpri-la”, disse. CLAQUE Antes do discurso, Temer recebeu privadamente cerca de 40 deputados, que já estavam sentados em seus lugares, e foram chamados para pajear o peemedebista durante a entrada.
Entre eles estavam os dois principais cotados para a vaga de relator da denúncia contra o presidente na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara: os deputados do PMDB, Jones Martins (RS) e Alceu Moreira (RS).
O posto é considerado chave para o presidente, que pretende acelerar a tramitação da denúncia na Câmara para enterrá-la em votação no plenário, onde precisa de 172 votos para impedir que o STF julgue a abertura de processo contra ele.
Quando foi afastada do cargo de presidente, em 12 de maio de 2016, Dilma Rousseff havia reproduzido a mesma cena, em discurso ladeado de parlamentares e ministros.