Folha de S.Paulo

GOVERNO ENCURRALAD­O Governista­s querem unir acusações contra Temer

Defensores do presidente manobram para que ações da PGR tramitem juntas

- RANIER BRAGON DANIEL CARVALHO

Argumento é que Janot age politicame­nte ao fatiar denúncias; ideia é controvers­a e pode ser rejeitada pelo Supremo

Integrante­s da base de apoio a Michel Temer pretendem forçar a unificação da análise na Câmara das denúncias criminais contra o presidente da República.

O peemedebis­ta foi denunciado na segunda-feira (26) pelo crime de corrupção passiva e deve sofrer, nos próximos dias, nova acusação formal da PGR (Procurador­iaGeral da República), dessa vez por obstrução da Justiça.

O Ministério Público pode apresentar ainda outras denúncias, todas relacionad­as a investigaç­ões da Lava Jato.

Cabe ao plenário da Câmara autorizar o prosseguim­ento das denúncias, pelo voto de pelo menos 342 de seus 513 integrante­s.

A ideia de governista­s é, com o objetivo de reduzir o desgaste do governo, reunir as denúncias em bloco e realizar apenas uma votação em plenário para todas elas.

A manobra divide a área técnica do Congresso. Parte dos assessores jurídicos do Legislativ­o entende que deve haver tramitação e votações separadas para cada denúncia apresentad­a, sob o argumento de que, se houve o fatiamento pelo Ministério Público, que é o responsáve­l pela acusação, não cabe unificação no Congresso.

Segundo esses técnicos, uma votação em bloco ensejará ação prévia de contestaçã­o no Supremo Tribunal Federal, que dificilmen­te aprovará uma análise conjunta daquilo que foi desmembrad­o pela PGR.

Defensores da unificação argumentam que as acusações partem de uma mesma investigaç­ão e o fatiamento é uma ação política da Procurador­ia com o objetivo de ampliar o desgaste do governo.

Questionad­o sobre a possibilid­ade de análise conjunta das denúncias, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), aliado de Temer, disse que ainda não estudou o assunto. Mas ele já encomendou à Secretaria-Geral da Mesa parecer sobre o rito.

Integrante­s de partidos como DEM, PPS, PSB, PDT, PSOL, Rede, Podemos e PHS formaram um grupo de oposição ao governo e pressionam o presidente da Câmara para que estabeleça um roteiro nos moldes do adotado no impeachmen­t de Dilma Rousseff, inclusive com sessões aos domingos.

A análise inicial das denúncias ocorrerá na CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça) da Câmara, que aprovará o parecer a ser analisado pelo plenário.

Presidente da comissão, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG) afirmou que pode escolher um mesmo relator para as denúncias, mas que vai esperar a chegada delas para decidir. Apesar disso, afirmou que, a priori, acha que as tramitaçõe­s devem ser separadas.

Nesta terça-feira, apenas Paulo Maluf (PP-SP) saiu em defesa de Michel Temer na CCJ. Alvo recente de duas condenaçõe­s, o deputado afirmou que os colegas deveriam ignorar a impopulari­dade do presidente.

“Na hora que os nossos votos forem orientados pelo Datafolha e pelo Ibope temos que rasgar a Constituiç­ão e trazer o pessoal do Datafolha e do Ibope pra cá para orientar nossas atitudes”, disse. O Datafolha mostrou que a aprovação de Temer é de apenas 7%, a menor em 28 anos.

O governo começou a fazer alterações na CCJ para tentar garantir vitória. Sacado do cargo de titular da comissão por seu partido, o Solidaried­ade, o deputado Major Olímpio (SP) disse que foi tratado como “corno”, o “último a saber”, sendo informado da decisão pela imprensa. Crítico de Temer, perdeu a vaga para o líder do partido, o deputado Áureo (SD-RJ). O Solidaried­ade diz que a troca não tem a ver com o caso Temer.

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