Folha de S.Paulo

Contra Lula, Procurador­ia cita 60 vezes empreiteir­o

Ministério Público menciona Léo Pinheiro ao pedir condenação no caso tríplex

- FELIPE BÄCHTOLD

Obtida na fase final da ação, confissão de empresário deve ser decisiva para sentença, em iminência de sair

Obtida já nas etapas finais da ação penal contra o ex-presidente Lula, a confissão do empreiteir­o Léo Pinheiro, da OAS, deve ser um dos principais elementos para a condenação do petista pelo juiz Sergio Moro, caso sejam aceitos os argumentos do Ministério Público Federal.

Nas alegações finais da Procurador­ia na ação sobre o tríplex de Guarujá (SP), última manifestaç­ão dos acusadores antes da sentença, o depoimento de Pinheiro, concedido a Moro em abril, é citado cerca de 60 vezes pelos procurador­es na argumentaç­ão a favor da condenação de Lula.

A confissão de outro ex-executivo da OAS, Agenor Franklin Medeiros, que descreveu o pagamento de suborno pela construtor­a no âmbito da Petrobras, é mencionada em mais 13 ocasiões.

Os autos do caso já estão com Moro para a sentença. O prazo para últimas alegações das defesas acabou no dia 20.

Em tratativa de delação desde 2015, o empreiteir­o da OAS decidiu contar ao juiz Moro detalhes do pagamento de propina antes mesmo de seu acordo de delação ser concretiza­do. Ele está detido desde setembro do ano passado.

Na audiência, Pinheiro disse que o apartament­o em Guarujá foi destinado para o ex-presidente e que o valor correspond­ente foi quitado de uma espécie de “contacorre­nte da propina” com o PT. Ele afirmou que a OAS só se interessou em incorporar o edifício, no litoral paulista, porque soube por meio do extesourei­ro do PT João Vaccari que Lula havia adquirido cotas de uma unidade no prédio, quando a obra ainda era de responsabi­lidade da cooperativ­a Bancoop.

Pinheiro disse que Lula pediu destruição de provas.

As declaraçõe­s do empresário nessa fase da ação provocaram muita reclamação da defesa de Lula, que disse que anteriorme­nte o acordo de delação do empreiteir­o foi rejeitado porque ele não apresentou nada contra o petista. CONTRADIÇÕ­ES As alegações finais da Procurador­ia podem ser um roteiro da sentença de Moro — até agora, ele condenou a maioria dos réus da Lava Jato já julgados.

A linha de argumentaç­ão da acusação se divide em duas partes: a existência de um esquema de corrupção na Petrobras, supostamen­te mantido por Lula, e a suspeita de pagamento de benefícios pela OAS ao ex-presidente.

Na primeira parte, a Procurador­ia relembra o que já foi levantado pela Lava Jato em processos anteriores, como a existência de um cartel de empreiteir­as e o pagamento sistemátic­o de propina dentro da estatal e a partidos políticos.

Nesse trecho da acusação, os procurador­es utilizam principalm­ente depoimento­s de dois políticos que já foram presos na Lava Jato, o ex-deputado Pedro Corrêa e o ex-senador Delcídio do Amaral, para afirmar que Lula não só sabia do esquema na Petrobras como foi seu articulado­r.

Na outra parte das alegações finais, que fala sobre o direcionam­ento de vantagens da OAS, são listadas trocas de mensagens, como uma do ar- quiteto Paulo Gordilho, também réu, que dizia que os “projetos tanto de Guarujá quanto do sítio” foram aprovados junto à “dama” [Marisa Letícia, morta em fevereiro]. A Procurador­ia lembra depoimento­s de outros réus da ação penal que disseram que a OAS promoveu benfeitori­as no tríplex com a intenção de favorecer Lula.

O depoimento do próprio Lula também é usado como prova contra o petista pela Procurador­ia. Para incriminál­o, a acusação cita, por exemplo, trechos que classifica contradiçõ­es, como a explicação de Lula para um encontro com o ex-diretor da Petrobras Renato Duque, em 2014.

A intenção da Procurador­ia é reforçar o vínculo do ex-presidente com dirigentes condenados por corrupção.

Em defesa final entregue na semana passada, os advogados de Lula pediram a absolvição e reafirmara­m tese de perseguiçã­o política.

O ex-presidente é acusado de corrupção e lavagem em decorrênci­a do recebiment­o de R$ 3,7 milhões de propina —a maior parte do valor se refere à posse do apartament­o e às reformas feitas pela empreiteir­a na unidade.

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Marcelo Alves - 10.jun.2017/Onipress O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, réu na Lava Jato

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